Pergunta: Em virtude de vossos ensinos, muitas pessoas tem saído de
instituições nas quais, durante muitos anos, seguiram uma disciplina
estabelecida para a vida — tal como a de não comerem carne, não beberem vinho,
não fumarem etc. Agora, que abandonaram essas instituições, voltaram novamente
a comer carne, a beber, a fumar, etc. É isto coisa de deplorar-se ou demonstra que
o seguir-se uma disciplina de vida que não seja baseada em nossos próprios
desejos não tem valor?
Krishnamurti: Nenhuma
instituição, ordem ou corporação de pessoas pode impor uma disciplina a outrem.
Tal disciplina é produzida pelo temor e não tem valor. Não podereis, por meio
de uma ilusão, produzir nobreza. A disciplina tem que ser auto-imposta e,
então, não mais se cuidará de ceder a coisas que sejam fúteis. Se não comerdes
carne somente por causa de uma disciplina imposta por outrem, tal abstinência
não tem valor. Isso só demonstra que não existe dentro de vós o desejo de
chegar a essa quietude da suprema realidade que somente pode ser atingida por
amor à vida; e o caráter deste amor é a segurança da incorruptibilidade da
disciplina. A maioria dentre vós filiam-se a Ordens, ou Sociedades e seguem as
disciplinas que elas lhes impõem. Tais disciplinas são para os preguiçosos.
Porém, um homem ativo, que não seja indolente e sim concentrado e cuidadoso, a
todo o instante se impõe a disciplina que é nascida do entendimento. Ele,
portanto, está liberto de toda a disciplina. A autodisciplina “é ser”; e a disciplina imposta pelas sociedades,
instituições, seitas, é apenas “tornar-se algo”.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 2 de agosto de 1930