Pergunta: Como poderemos distinguir entre a propulsão do verdadeiro
Tirano interior e a obsessão proveniente do entusiasmo pessoal?
Krishnamurti: Por meio da
experiência. Para reconhecerdes o verdadeiro Tirano que está dentro de vós,
tendes que experimentar, tendes que observar, necessitais peneirar e separar
vossos próprios pensamentos, emoções e impulsos. Se estes não se harmonizarem
com a vossa meta, criarão tristeza e por esse modo vos conduzirão ao
entendimento.
Pergunta: Devem as crianças ser educadas de acordo com as opiniões dos
adultos, ou deve-se-lhes permitir que resolvam seus próprios problemas?
Krishnamurti: Qual o
propósito da vida? Chegar à felicidade por meio da libertação, a liberdade para
todos. Se tiverdes isto em mente, agireis como alguém que protege enquanto a
criança é nova, mantendo essa finalidade em vista a todo instante. Se eu fosse
professor em uma escola, guardaria de continuo em minha mente a ideia da liberdade como sendo a meta para as
crianças, o atingir da absoluta libertação e felicidade eterna. Naturalmente,
elas não podem atingi-la nesse breve período de tempo que denominamos uma vida;
porém é esta a meta final. Assim,
pois, eu estabeleceria certas regras e regulamentos, porém todas elas ficariam
sujeitas a esta única coisa.
Tomai como exemplo uma planta
pequena. Enquanto ela é nova, vós lhe dais água, vós a abrigais do sol e dos
ventos; sabeis, porém, que tempo virá em que ela não mais necessitará de vosso
abrigo. Ela exigirá espaço e liberdade para crescer, ou então morrerá.
O mesmo se dá com as crianças. Atingir
essa felicidade que é eterna por meio da libertação, é o que todos desejam;
isso porém não significa desordem e caos. A libertação significa a produção de
um milagre de ordem, tirando-a de séculos de caos, resultante de gerações de
pensar ignorante e de crenças insensatas.
Pergunta: Que consecução da vida espiritual ( não de uma religião ou
dogma ) a não ser a vida que ela conhece, apresentaríeis a uma criança, de modo
a não ficar ela emaranhada em imagens picturais e concepções concretas?
Krishnamurti: Eu lhe ensinaria a amar a vida, a gozar a vida, quer
esta traga consigo a felicidade ou a tristeza. Se eu tivesse um filho,
ensinar-lhe-ia a averiguar que ele é o seu próprio mestre, seu próprio guia e
que não deverá confiar na autoridade externa, em busca de conforto, em expressões
exteriores dessa mesma vida, para chegar ao entendimento; que ele precisa de
descobrir e esforçar-se, no sentido de encontrar a maneira de libertar a vida.
Se se mostrar a uma criança,
desde o inicio que o preenchimento da vida, dentro dela própria, se produz pelo
libertar essa vida de todas as limitações, o que é o resultado de passar pela experiência,
e ultrapassar toda experiência, por essa luz se guiará ela a si mesma e não pela
luz — ou treva como eu de preferencia lhe chamaria — ou de uma autoridade, do
medo, da tradição. Explicai-lhe desde o início que ela própria tem de libertar
essa vida que é espiritual. Não lhe podeis ensinar a realiza-la, — pois a via
de preenchimento difere para cada homem — porém podeis mostrar-lhe a meta final
sem começo nem fim. Dado vós, o pai, o haverdes compreendido, podeis dar-lhe do
vosso entendimento.
Pergunta: O estudo da ciência moderna, com sua concepção da imensidade,
da natureza e da insignificância do homem, com seu curto palmo de vida, tende a
estupidificar todo o presente esforço, especialmente nos jovens e produz uma
atitude negativa à vida. Como pode isto ser contrariado?
Krishnamurti: A
imensidade da natureza não é maior do que a própria vida. A natureza, no fim de
tudo é vida; é um termo que expressa a vida por uma maneira diferente. Pelo fato
de os homens não estarem enamorados pela vida, são vencidos pela atitude
negativa, que estupidifica e limita a vida. A vida está em cada um. Se a vida não
constitui vosso predominante interesse e o preenchimento da vida vossa necessidade mais urgente, tudo o
mais, naturalmente assumirá maior importância. Daí provirá a estupidificação
dessa mesma vida. Como impedir isso? Fazendo convite a grandes tristezas, a
grandes gozos, na plenitude de vosso coração; pelo convite à dúvida. É esta a
maneira única de escapar de ser colhido pela limitação e, por essa maneira,
sufocar a vida.
Pergunta: Que espécie de educação devemos dar a uma criança afim de
faze-la aceitar a mensagem da libertação?
Krishnamurti: Nutro a
esperança de que ela não aceite. Quereis forçar as pessoas a libertação por
meio de outrem, seja quem for. Vós próprios não possuis o desejo de vos
libertar ou deixar que outros se libertem, e, assim, pretendeis forçá-los a
aceitar a ideia da libertação.
Ultimamente, na Califórnia, vi
uma localidade denominada Lázaro Riu-se.
Quando Lázaro ressurgiu do túmulo, começou a rir, porque sabia não existir a
morte; ele riu-se por ver que todos se incomodavam com a morte. Ele tem discípulos
e seguidores e estes riem-se também, porém riem-se por meio de uma máscara.
É isto que vós estais fazendo
agora. Falais de libertação, de felicidade, através de uma máscara, não por convicção própria. Para mim ela
é real, eterna; para vós não o é. Haveis posto fora a máscara de que haveis
sido portadores, durante todos esses anos; porém agora afivelasteis uma outra
que vos assenta mal.
Pergunta: Como apresentaríeis a ideia da morte a uma criança, de modo a
não sentir ela medo? Não nascem certas crianças com um medo inato da morte? Como
pode ele ser removido?
Krishnamurti: Se vós
pessoalmente tiverdes medo da morte, comunicareis esse medo a vosso filho. Como
a maioria das pessoas se atemorizam com a morte, as crianças atemorizam-se também.
Na Índia, o povo não se atemoriza muito com a morte. Há tantas mortes todos os
dias que, de fato, eles habituam-se a isso. Podeis ver crianças contemplando
corpos mortos ao serem conduzidos pelas ruas. Para explicar a morte a uma
criança, eu usaria o exemplo de uma flor. Assim como uma flor murcha, o corpo
murcha também. Nada existe que possa causar medo, por tal motivo. É um
acontecimento natural, o curso natural de uma flor ou de um ser humano. Nada existe
de horror, de terrífico, a respeito da morte. A morte só é temível, quando vos
apegais à forma externa, a qual é mera expressão
da vida. Se, porém, estiverdes em amor com a vida, a expressão dessa vida não
vos colherá fortemente.
Krishnamurti, 1930