Há tanto sofrimento implícito na
ação que o homem volta-se para a verdade em seu desejo de conforto. Assim, a
verdade torna-se um assunto de conveniência, um refúgio, um manancial de
consolo. A verdade, porém, não tem qualidade visto ser impessoal. Quando a ela
atribuis uma qualidade, vós caluniais a totalidade da verdade por causa de
vossa compreensão unilateral da luta pela vida. Deveis buscar a verdade para
além do que é pessoal, autoconsciente, individual em matéria de desejos. Se
buscardes consolo, estabelecereis nesse desejo de consolo, estágios variáveis
de consolo. A verdade, porém, está para além de toda a limitação, para além do
tempo e do espaço em que existe a consciência individual. Se vos acercardes à
verdade com esta limitação de consciência, não compreendereis a felicidade
consciente perdurável.
Explicarei a diferença que existe
entre autoconsciência e Consciência. Autoconsciência é a resultante da existência
individual na qual existe a separatividade, na qual há conflito de um contra
outro; ao passo que a Consciência é essa “Seidade”
na qual toda a consciência individual existe, que está além do tempo e do
espaço, ainda que tempo e espaço estejam implícitos nessa Consciência. Essa
felicidade consciente, perdurável, é ser positivo. A autoconsciência individual
sofre decadência, perece, vem à existência e morre; ao passo que essa
Consciência perdurável não sofre decadência. Ela é contínua. A essa coisa
imutável não podeis — pelos vossos costumes, pelos vossos nascimentos e mortes,
por meio de toda essa variedade de mudanças — atribuir autoconsciência
individual. Tendes que encará-la de modo absolutamente impessoal e essa maneira
de trata-la impessoalmente assegura a incorruptibilidade da autodisciplina.
Krishnamurti em Reunião de Verão, 24 de julho de 1930