Pergunta: Tagore diz que a perfeição humana é a harmonia da
interdependência, antes do que a arrogante afirmação de independência. Como
pode esta opinião ser conciliada com vossa concepção do homem civilizado como
alguém que nada pede para si mesmo seja de quem for? Parece-me óbvio que a
espécie humana só pode agir, desenvolver-se e criar, em um grupo de
mentalidades.
Krishnamurti: Seguramente
o homem que nada pede a ninguém para si mesmo — espiritualmente — por ser
livre, por haver encontrado o verdadeiro valor das coisas — adapta-se onde quer
que esteja. Ele não afirma a sua independência; acha-se desapercebido dessa
independência. Fisicamente é preciso que haja transigência. Para viverdes neste
mundo, como o tendes que fazer, é preciso que haja transigência, pois de outro
modo tereis que ir para uma ilha deserta. Como não podeis fazer isto, (e seria
uma evasão), tendes que transigir com o mínimo de coisas possível, transigir
com as necessidades físicas. Não pode haver qualquer outra transigência, porém
não mais dependereis seja de quem for para o vosso bem estar emocional e
mental. Não afirmareis independência; achar-vos-eis tão perfeitamente
equilibrados que haverá perfeita harmonia. Estais, dentro de vós mesmos, tão
perfeitamente equilibrados que sois
harmonia, não estareis dependendo de mais ninguém.
Isto não é afirmação arrogante de independência. A todo o instante estareis
ajustando a vós mesmos com a realidade — não com a realidade da limitação
autoconsciente, porém com a realidade do puro apercebimento. Portanto, não
estareis solicitando força, não estareis amedrontados, não sereis felizes por
causa dos bens ou pela ausência deles; sois todas as coisas, sereis perfeitos
em vossa harmonia própria.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 5 de agosto de 1930