Pergunta: Muitos dentre nós sentem-se fundamentalmente perturbados pelo
que parece ser o repúdio, pela vossa parte, de muito do que nos foi dado pelos
grandes lideres, como vindo diretamente das grandes Hierarquias dos Adeptos;
verdades tais como o Grande Plano, o Caminho do Discipulado que leva à
Iniciação e ao próprio Adepto. São estas ideias apenas criações da mente e,
portanto, sem valor, ou representam uma outra modalidade de verdade?
Krishnamurti: Expliquei
cuidadosamente o que é verdade do meu ponto de vista. Podeis toma-la ou deixa-la.
Para esta verdade não pode existir plano ou caminho algum — do meu ponto de
vista — e somente me preocupo com isto. O resto da pergunta não me interessa.
Para mim a verdade é uma, é a essência de todas as coisas que é a própria vida,
em manifestação ou fora da manifestação. Uma pessoa sábia terá em vista a
realidade central da qual eu falo e deixará o resto de lado. Se vos achais
perturbados, isto demonstra que ainda questionais acerca do que é a verdade.
Não é ficando perturbados que chegareis a verificar porém sim pelo serdes
positivos em uma coisa ou na outra. Para mim tudo é destituído de importância quando comparado com a realidade
central, viver, que é a própria verdade e à qual todo homem tem de chegar.
Pode o indivíduo tomar muitos caminhos externos, porém, a seu tempo, tem que voltar sobre si mesmo, pois que
está realidade está dentro dele próprio.
Pelo processo da luta, pela ignorância, desenvolve-se a individualidade, e o
propósito da existência individual é realizar a vida em seu todo, a qual mora
em cada ser humano. Para mim, portanto, todas as outras questões são destituídas
de relevância. Sei que pretendeis perguntar-me se os Mestres existem ou não
existem, se tal é verdadeiro ou falso, se isto é certo ou errado. Não responderei
a essas perguntas por serem, para mim, irrelevantes. O adorar a um outro “eu
sou” é apenas um engano. O homem que adora a vida em todas as coisas — no seu
próximo, no trabalhador, no mais alto, e no mais baixo — acha-se liberto de
todas as ilusões, pelo fato de haver encontrado a vida na qual existe completa
união, que é a vida do amor e do pensamento em si mesmo considerados.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 4 de agosto de 1930
(Campfire)