Pergunta: Dissestes em vossa palestra de domingo à tarde que o “domínio
não deve ser repressão”. Podeis, por favor, definir estes dois termos? Ao
começo do domínio não deve existir a repressão?
Krishnamurti: Repressão,
para mim, é o esforço consciente produzido pelo medo, o domínio provém do
entendimento, do propósito da existência individual. Assim, pois, desde o próprio
começo, a autodisciplina, que é o verdadeiro domínio, nasce do entendimento da
própria vida — não do medo da vida, o qual mais não é que repressão e implica a
imposição externa de disciplina. O domínio é autodisciplina imposta a vós
próprios pelo vosso próprio entendimento e esse entendimento advém do amor à
vida; e no cuidar desse amor acha-se a segurança da verdadeira autodisciplina.
Pergunta: Ao que é que realmente visais quando pondes a ideia da Libertação
diante de nós? É ela uma plena e completa mudança de consciência, ou é
meramente um certo número de pequenas libertações que melhoram nossas maneiras
de conduta?
Krishnamurti: Se tiverdes
que viajar a uma grande distância necessitais de numerosos cavalos de confiança
e o primeiro cavalo não é o que voz conduz à meta. Todos são necessários e não
apenas um. Os modos e a conduta, em si próprios, nada são; é a fonte de onde
eles provêm, a espontaneidade com que se manifestam que é de valor.
Eu avanço esta ideia da
libertação, pelo fato de ver em redor de mim tanta gente emaranhada em ilusões
e, portanto, em tristezas; porém tendes que vos aperceber que, para a descrição
da libertação não existem palavras. Porém, por outro lado, não vos enganeis
também com esta ideia. A partir do momento que a tenhais tocado, conhecereis a
verdade de que vos falo. Eu somente posso abordá-la por momentos, aponta-la por
maneiras diferentes e com palavras diferentes; porém esta realidade viva,
central, por ser o todo da vida, não pode ser limitada por meio de palavras.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 5 de agosto de 1930