Pergunta: Por que sustentais que a Vida não tem propósito? Se a Vida
não tem propósito, a vida individual, mesmo no puro ser, não pode também ter propósito; pois que a perfeição
individual somente pode ter significado quando houver um propósito na criação.
Krishnamurti: A Vida — e
Por isto eu entendo essa vida que é verdade, da qual não há divisão, na qual se
consumam todas as coisas, da qual todas as coisas dependem, na qual todas as
coisas existem — essa vida não tem propósito, pois ela é. Para aquilo que é, não pode existir propósito, pois que
a tudo abrange. Nela estão o tempo, o espaço e a existência individual; porém,
a existência individual em que a
totalidade ainda não se encontra realizada, essa tem propósito. Tal propósito
é a realização dessa totalidade. A individualidade não constitui um fim em si
mesma, pois que a individualidade é imperfeição. Acha-se sob o peso da sua
natureza incompleta; e portanto a implicação da individualidade, seja qual for
o grau que atinja, nunca deixará de ser a individualidade. Aquilo que é
imperfeito, não pode, pelo fato de aumentar de grandeza ou de multiplicar-se,
ser tonado perfeito. Assim, o verdadeiro propósito da vida individual é
realizar esta unidade das coisas, esta realidade, em que não existe sentimento
de sujeito e objeto, de “tu” e “eu”, em que não há reações, porém somente o
sentimento de puro ser que é
positivo, dinâmico. (ao fazer uso da palavra “positivo”, não contesto o negativo).
Esta vida acha-se em todas as coisas — nesta mesa, por exemplo, assim também
como no homem mais elevado e culto. Mas o indivíduo, no qual existe a
separação, no qual há a distinção entre sujeito e objeto, no qual há divisão
por motivo de sua limitação, de sua imperfeição, tem que consumar-se a si
próprio na perfeição, na incorruptibilidade. Portanto, a existência individual
tem um propósito, ao passo que a vida não o tem.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 31 de julho de 1930