Pergunta: O amor pessoal parece-me ser coisa completa e bela por si
mesma. Dizeis que pelo transcender o amor pessoal alcança-se o amor
incorruptível; porém, o encarar o amor pessoal como apenas um passo para o amor
real, parece-me ser uma profanação do amor abstrato. Será o amor incorruptível
uma fria abstração?
Krishnamurti: Se por amor
pessoal se entender esse amor que é todo-integrativo, então estará ele para além
de toda corrupção. Se, porém, por amor pessoal se entender o amor a um e não
aos muitos, então, achar-se-á ele ainda nas garras da corrupção, e a corrupção
é tristeza. Eu não encaro o amor pessoal como um passo para qualquer coisa.
Nesse amor pessoal reside a totalidade do amor, pois que o amor é, em si mesmo,
contínuo, eterno. Se, porém, somente o derdes a um e o retiverdes no atingir os
muitos, estareis negando a plena liberdade desse amor.
“É o amor incorruptível apenas uma abstração?” Naturalmente que
não. Nem tão pouco é ele um refúgio para o qual possais fugir. Para mim, este
amor, que é todo-integrativo, é dinâmico, não indiferente, é coisa positiva, e
não fria abstração. Este amor não possui reação. Ele a todo o instante é e daí atuar realmente em direção a
todas as coisas que a ele vêm, sem diferenciação. Ele é como o aroma, o perfume
de uma flor, dado a todo o transeunte. Não é uma fria abstração, porém uma
realidade viva que se encontra no amor pessoal verdadeiro — não nesse amor
pessoal que se conserva isolado dos outros, porém nesse amor que é
todo-integrativo.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 4 de agosto de 1930
(Campfire)