Pergunta: Se a libertação é independente do crescimento evolucionário e
se um homem apenas ligeiramente evoluído pode atingir a libertação e, com ela,
o aniquilamento do eu, como pode tal homem prosseguir em sua evolução se não
possui ego no qual possa armazenar a essência de suas futuras experiências?
Krishnamurti: Evolução é
a extensão da individualidade —aquilo a que chamareis consciência individual,
autoconsciência no tempo. Ora aquilo que é imperfeito, que é a individualidade,
não pode ser multiplicado; a imperfeição não pode ser evolucionada e, se o for,
permanecerá sempre imperfeição. De nada serve multiplicar aquilo que é separatividade
digamos, até o grau “n” — pois que ficará sempre separado
pelo fato de possuir suas raízes na separação. Portanto, a multiplicação desse “eu
sou”, que é separatividade, jamais conduzirá à exclusividade. A evolução desse “eu
sou” tem de permanecer sempre imperfeita, pois que parte da imperfeição. Na
melhor das hipóteses, não é mais que uma expansão da separatividade. A libertação,
por outro lado, é o libertar-se da consciência a qual não é a multiplicação do “eu
sou”; e sim o desgaste do sentimento de separatividade.
Pergunta: Torna-se a vida de um indivíduo de qualquer modo melhor e
mais útil no mundo simplesmente pelo fato de deixar ele de seguir a instrutores
menores e aderir ao maior de todos, embora este maior não deseje seguidores e
sim apenas que se viva a vida?
Krishnamurti: Para que
vindes assistir a estas reuniões? Por pensardes que aqui existe alguém que é
honesto e sincero e que atingiu a meta. Assistis afim de compreenderdes certa
atitude que eu sustento ser a atitude única. Não vos digo que deveis formar
divisões acerca deste fato e criar intolerância. Se estiverdes pensando que
este é um método único que vos explicará o processo integral de viver, jamais o
compreendereis. Se, porém, continuamente vos ajustardes à vida, não somente
aqui no momento presente, porém depois que daqui vos retirardes, então não
estareis seguindo a ninguém. Vede, pois, que o atingimento espiritual não está
no seguir a outrem, seja um guia, um instrutor, ou um profeta. Eu não sou
nenhuma destas coisas. É uma desgraça o atribuírem-me tantos nomes. Eles irão
desaparecendo gradualmente. A coisa que me importa é o estar unido com a vida,
o ser livre e feliz; e somente podereis chegar a isto libertando a vida que está
dentro de vós mesmos.
Jiddu Krishnamurti em 1 de janeiro de 1930