Pergunta: Dissestes ontem que o casamento é apenas o desejo de escapar ao
isolamento. Parece ser isto uma concepção muito negativa das relações
recíprocas que oferecem um campo rico de experiência, desde que se combine a
união física com o mundo do amor. Não é, pois, tal relação recíproca de grande
valor, mesmo para aqueles que buscam a libertação e não meramente a sensação ou
um meio de fugir da solidão?
Krishnamurti: A qualidade do verdadeiro amor, do
amor puro, não conhece distinções tais como as de esposa e esposo, filho, pai,
mãe. Porém, geralmente, acontece quando vos casais, dais o vosso amor ao uno e
negais aos muitos — no entanto podeis ser casados e ter a todo o mundo em vosso
coração e mente, indistintamente. Um amor tal é eterno.
O casamento é cooperação para
experiência mutua. Necessitamos de ter o casamento — não necessariamente o
casamento em sua forma presente, — em a qual duas pessoas podem crescer
mediante a experiência comum, de modo que esta conduza à verificação de que não
existe a separação do verdadeiro amor. Este é, no fim de tudo, o resultado
essencial da experiência: o reconhecer a realidade em todas as coisas, não em
uma, porém em todas as pessoas, dedicar amor, não ao uno, porém aos muitos. Se
o casamento conduzir a isto, então, será ele essencial para o homem. Se, porém,
ele for meramente uma divisão, achar-se matizado pela tristeza.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 4 de agosto de 1930
(Campfire)