Pergunta: Para todos nós, presentemente, o amor significa o amor a um
outro indivíduo. A ideia da morte é angustiante porque significa separação em
relação ao indivíduo ou indivíduos a quem se ama. Assim, pois, voltamo-nos para
a religião, para a teosofia, ou para o espiritismo e encontramos conforto em
suas várias teorias, as quais nos capacitam para termos esperança de nos
voltarmos a unir àqueles a quem amamos. Do que depreendo de vosso ponto de
vista, não somente esta esperança, essa ânsia de conforto é uma ilusão, porém
também o desejo de prolongar a individualidade em nós e nos outros nada mais é
do que atrair tristeza, pois que é continuar na limitação. Ao passo que, se pudéssemos
realizar o puro ser,
experimentaríamos em sua totalidade essa alegria que já conhecemos em grau
infinitesimal por intermédio do amor individual. É isto o que quereis
significar?
Krishnamurti: A tristeza
ocasionada pela morte nada mais é do que uma outra maneira de estar
desapercebido de que vós, mesmo como indivíduos sois seres separados; daí
manifesta-se a solidão. Esta solidão tem lugar, pelo fato de proporcionardes o
vosso amor a outro ser que se encontra também apercebido de sua individualidade
e assim, quando esse ser morre — o que tem de acontecer, — sobrevém a tristeza.
Se, porém, estiverdes apercebidos, por meio do esforço, por meio da pureza da
conduta na qual não existe sentimento de separação — vosso amor (no qual o ódio
se acha também incluído, bem como o ciúme, a inveja, a cobiça e todos os
opostos), em vez de se apegar às existências individuais, torna-se a sua
própria continuidade, sua própria eternidade. Pelo fato de em vossa consciência
existir a separatividade, o conhecimento da individualidade, do “tu” e do “eu”,
tem que haver tristeza. Quando vos encontrais apercebidos da separação, existe
limitação e em seu despertar há sofrimento. Se somente amardes o que é externo,
o que é a manifestação do real, tem que haver sofrimento; ao passo que se
amardes a realidade existente em todas as coisas, posto que as suas expressões
variem, dar-se-á a continuidade do amor. Todos que se encontram em tristeza
buscam uma explicação para a tristeza, explicação que dissipe a tristeza
causada pela separação. Se alguém morre, quereis conservar-vos unidos à sua individualidade
em outro plano de consciência, em outro plano de fenômenos. Deveríeis encarar
isto do ponto de vista da continuidade da existência. Contemplais o amor — no
qual se acha implícito o ódio, a cobiça, e todos os outros opostos — a partir
do ponto de vista da individualidade autoconsciente e quereis que essa individualidade
se prolongue através do tempo; isto é, quereis que a individualidade continue
ininterruptamente expandindo-se. Se souberdes que a individualidade é uma
limitação, que o propósito da existência individual é realizar a unidade da
vida, realizar a pura existência sem esforço, então, por meio da luta
verificareis que nessa unidade todos os indivíduos separados se encontram
reunidos. Então não mais pedireis para vos juntardes aquilo que amais como
entidade separada.
Krishnamurti em Reunião de Verão, 24 de julho de 1930