Pergunta: Como o impulso sexual parece ser inerente em toda a natureza,
tanto como o são a fome e a desse, como é que a sua satisfação normal é
encarada como sendo não — espiritual, enquanto que a normal satisfação da fome
e sede são consideradas naturais? Qual a vossa opinião sobre o casamento no
sentido de homem e mulher se juntarem com este propósito, independentemente da
necessidade da perpetuação da espécie? Será expressão física do amor sexual uma
limitação do amor e da vida? Se assim é, como dela nos libertamos?
Krishnamurti: Toda vez
que nela exista apego à sensação, há tristeza, quer ela se evidencie na sua
satisfação do sexo, quer na fome. Toda a vez que existir falta de domínio por
meio de entendimento adequado, há tristeza. Não se trata de ser espiritual ou
de não o ser. É uma questão não de supressão mas de domínio — sendo a supressão
um afastamento sem propósito em relação ao desejo, a qual não vos conduzirá a
coisa alguma; porém, com o entendimento do propósito da existência individual
vem o controle no qual existe desapego de toda sensação. O homem que é escravo da sensação acha-se preso à escravidão da
tristeza.
Perguntaram-me outro dia por que
não me casava. Dir-vos-ei a razão. Não sou contra o casamento. O casamento,
aquilo que a sociedade chama de casamento — tem lugar porque os homens e as
mulheres se acham solitários. Ora, se sobrepujardes toda a solidão, não
necessitareis casar-vos. Vós sereis todas as coisas. Não mais estareis sós.
Não mais necessitareis de apoio, de animação, de lição do constante ajustamento
ao ponto de vista de outrem. O propósito do casamento é o de fazer um esforço
em conjunto, por parte do homem e da mulher, para que ambos cresçam, para se
ajustarem, para se compreenderem, para desenvolverem várias qualidades. Se,
porém, estiverdes enamorados da vida em si mesma, na qual existe tanto a
expressão do homem como a da mulher, então estareis vos ajustando a todo
instante a essa totalidade e tereis transcendido a necessidade de experiências
de constante ajustamento de ponto de vista. Então não necessitareis casar-vos.
Porém, não vos enganais a vós próprios.
"É a expressão física do amor sexual uma limitação do amor e da vida? Se assim for, como dele nos libertaremos?" Se fordes escravos da sensação — se estiverdes apegados, e dependentes para vossa felicidade da sensação, da satisfação — então ela será uma limitação do amor e da vida.
"É a expressão física do amor sexual uma limitação do amor e da vida? Se assim for, como dele nos libertaremos?" Se fordes escravos da sensação — se estiverdes apegados, e dependentes para vossa felicidade da sensação, da satisfação — então ela será uma limitação do amor e da vida.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 2 de agosto de 1930