Pergunta: Julgais que uma sociedade como a Sociedade Teosófica, que
proclama a prática da fraternidade universal, que faz o estudo comparativo dos
ensinamentos do Cristo, do Buda, e de outros grandes instrutores e que procede
a um estado científico dos mundos invisíveis, não tem valor para a vida
espiritual?
Krishnamurti: Sustento,
como ontem disse, que os escritórios
de informações são necessários, tais como os livros também o são. Não é, porém, por meio de livros e
sociedades que realizareis a vida que é verdade. Quanto ao estudo
científico dos mundos invisíveis, digo que, para mim, o ocultismo é mero exame
dos fenômenos correspondentes aos planos superiores, nada mais. Os mundos com os
quais se preocupa são ainda mundo fenomenais. Se compreenderdes este mundo
tereis entendido também todos os mundos invisíveis. Quando eu era rapaz — como
muitos outros rapazes sensitivos na Índia — costumava ver devas, anjos, etc.
Mas, o ver o que é normalmente invisível
não resolve o problema da tristeza, nem vos ajuda a crescer ou a realizar a
plenitude da vida.
Pergunta: Ouvimos falar bastantes vezes a respeito de uma Associação de
Homens Perfeitos denominados Mestres, que por um processo especial de
discipulado adestram as pessoas e as auxiliam em sua evolução espiritual. Podeis
dizer-nos se, de acordo com o vosso ponto de vista, isto é evolução real?
Existem realmente os Mestres?
Krishnamurti: A evolução
é um fato inegável. Porém que é que vos preocupa o saber quem está na vossa
frente e quem está atrás, ou se estais projetando uma sombra a face de outrem? A realidade está dentro de nós próprios,
não fora. Nenhuma elevação de culto externo nos conduzirá à realização dessa
verdade interna. Não podeis encontrar a realidade central da vida por meio
de manifestações externas. Eu falo a respeito da vida incondicionada, não da
que é condicionada; da verdade que é absoluta, não da verdade expressa por meio
de gradações. Como outro dia vos expliquei, há sempre uma tentação para o
homem, que é a de se afastar da luta imediata com a vida, indo para um outro
mundo de desejos, construir credos e ilusões nesse mundo, fazendo deles lugares
de refúgio para esses desejos. É pelo fato de sentirdes que a vida de todos os dias é muito áspera
para vós, que buscais o conforto nos reinos superiores. Mas, efetuar isto sem entendimento é
mera covardia. Não haveis de encontrar no mistério a solução daquilo que
absolutamente não tem mistérios. Ninguém nega as diferenças em evolução.
Obviamente, o homem civilizado é mais evoluído do que o selvagem. Mas, ai do
homem que oculta as diferenças! Aquilo com que me preocupo é com o construir
uma ponte sobre todas as diferenças, como destruir as barreiras que dividem o
homem do homem. Nada tenho que ver com o assunto relativo a quem deveis e a
quem não deveis prestar culto, ou se os Mestres existem ou não existem. Para mim essas coisas não têm importância.
O homem sábio olha para todas as coisas; verifica as qualidades que nelas são
colhidas. A partir do momento que compreenderdes o princípio central ativo, auto-existente, então todas as
ilusões com seus perigos desaparecem. Que seja, pois, sobre este princípio central
que os vossos desejos se centralizem, e então estareis salvos.
Pergunta: Se sois contra a autoridade espiritual, porque é que ides em
redor do mundo fazendo conferências e ensinando?
Krishnamurti: É muito
simples: porque o quero. Não há nisto autoridade espiritual. Não exerço a minha
autoridade. Vou, porque quero, porque vejo muita tristeza na face do homem.
Krishnamurti em Acampamento de Ojai, 1930