Pergunta: O efeito do trabalho cerimonial, tanto o da igreja como o maçônico,
é libertar energia. Este poder flui sobre o mundo e ajuda a neutralizar karma e
elevar a consciência geral. Deve este trabalho cessar?
Krishnamurti: Penso que
voltamos ao medievalismo. Como sabeis de tudo isto? Alguém vo-lo disse ou faz
parte de vossa própria experiência? Se fordes belos, já estareis libertando
força — seja qual for a frase que queirais usar — e por esse modo auxiliareis a
todos. Porém, a beleza não se apercebe a si própria. Ela se expande cuidadosa
sobre se a percebem ou não. Assim também é no vosso caso; não vos deveis
incomodar acerca de quem estais ou quem não estais ajudando. Se fordes
conscientes de vossa beleza não mais sereis belos. Porém é isto exatamente o
que estais fazendo — vós vos achais conscientes de estar espalhando força ou
como quer que o chameis, e daí tornar-se isto artificial e inútil. “Deveria
este trabalho cessar?” Não vo-lo posso dizer. Tenho uma vez e outra externado a
minha opinião sobre estas cerimônias, dizendo que elas, sejam de que espécie
forem, não são essenciais. Sei que
me haveis de chamar fanático, de mente estreita e assim por diante. Não
importa.
Pergunta: Algumas pessoas dizem que sois mero reformador com a intenção
de impor a convicção sobre um particular ponto de vista; que deliberadamente
estais tomando uma atitude estreita em relação às instituições, igrejas, etc.,
com espírito fanático afim de atingir um fim particular.
Krishnamurti: Não vejo
qual o valor em contradizer um tal enunciado. Se sou fanático, continuarei
fanático mesmo que haja contradita. O julgamento deve ser deixado livre do
indivíduo. Cada qual de vós deve decidir depois de exame impessoal e
desataviado se o que digo se parece com fanatismo. Deixai que vos lembre uma
coisa: ser fanático significa acentuar um ponto de vista particular, estreito,
por maneira exagerada. O que estou fazendo é insistir sobre um princípio
central, coisa completamente diferente. Como muitos de vós sabem, em certo
tempo filiei-me a sociedades; pertenci a instituições; tornei-me sacerdote como
é de direito de todo o Brâmane da Índia; acostumei-me a ir às reuniões maçônicas.
Para encurtar razões, fiz tudo o que tantos outros fazem afim de por mim mesmo
averiguar. Muito cuidadosamente entrei nessas coisas afim de ver se por
intermédio delas podia atingir essa realidade central que é eterna e existe por
si mesma; a essa felicidade que é vida. Passei por todas essas coisas, mas fali no
descobri-la; e, pois, não encontrando nelas a verdade que tinha em vista, abandonei-as.
Encontrei agora o que tinha em vista. E, portanto, quando digo que estas coisas
são desnecessárias, não o faço por pretensão ou fanatismo. Digo-o, porque sei
que todas elas se
tratam apenas dos sintomas e não da causa real.
Krishnamurti em Acampamento de Ojai, 1930