Pergunta: Para alcançar a libertação, será necessário ou preferível
abandonar nosso trabalho dos afazeres do mundo? Muitos pensam ser necessário
submeter-se a retiro. É isto correto?
Krishnamurti: Por favor,
encarai isto de maneira bastante prática É muito bom nos retirarmos em
reclusão. Porém, como esquema prático, existe somente uma nação, penso eu, na
qual isso pode ser feito com facilidade, é a Índia, porque ali se consideram o
homem que se retira do mundo como um santo e lhe dão alimento. Não creio que na
América se faça isto. Mas, inteiramente aparte disto, uma vida de reclusão
seria a última das coisas para vos conduzir à libertação. O verdadeiro
entendimento somente pode provir do contato constante com os seres humanos. O
tornar-se recluso, o retirar-se para o cimo de uma montanha é simplesmente uma
nova forma de fugir à atividade. O recluso faz, por outra maneira, o que faz o
homem que somente pensa em tirar proveito da vida. Cada qual a seu modo teme
defrontar a si mesmo e à vida. Uma outra forma da mesma covardia é a excessiva devoção a trabalhos; uma
atividade assim excessiva é frequentemente apenas um refúgio para a vida.
Existe somente uma maneira de viver realmente, e está é a de vos abrirdes a
todos os possíveis contatos. É por entre os homens e não longe deles que a
verdade e a felicidade se podem encontrar. Vede quão diametralmente oposto é
tudo isto relativamente às vossas antigas ideias de afastamento, de sociedades
secretas, de construirdes cercas em vosso derredor para vos separardes de
vossos semelhantes.
Não estou fazendo ataques,
prestai atenção por favor. Apenas quero acentuar que não é esta a maneira de
descobrir a realidade da vida. Tal coisa somente pode ser efetuada pelo
contínuo contato com a vida, em suas múltiplas limitações e corrupções. A verdade pode
somente ser encontrada por meio dos instrumentos vivos destinados à sua
descoberta, isto é, o pensamento, a emoção e os sentidos. Afastar-se
disto, portanto, é fugir da verdade. O indivíduo é um ramo vivo da árvore do
mundo; decepar-se a si mesmo desta árvore, é murchar e perecer.
Muitos dentre vós hão de
concordar com isto; porém a mera concordância não é o que se exige. O que se
necessita é de ação, e a ação é coisa individual. Se concordardes, rompei com
todas as coisas que forem ilusórias e com as instituições que separam. Sede
livres vós mesmos e, depois, libertai a outros. É por isso que eu digo: Se vos
encontrardes interessados por alguma coisa, dai a ela vosso ser inteiro, vossa
mente integral, toda a vossa alma.
Krishnamurti em Acampamento de Ojai, 1930