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terça-feira, 12 de julho de 2016

A experiência é o único mestre

As ideias que vos desejo apresentar não estão tolhidas pelas limitações do pensamento nacional, porque eu sustento que o pensamento e o sentimento reais não estão restritos pelo preceito nacional; eles não têm limites, nem fronteiras. Por favor não imagineis, portanto, que o que eu digo não é aplicável à América, porque aconteceu ter eu vindo do Oriente.

Deve-se ter a capacidade de pensar independentemente de todos os preconceitos nacionais, e de, por conseguinte, pelo pensamento independente criar a ação independente, pois a ação tem valor — o mero pensamento não realizado pela ação, é inútil. O pensamento, com a sua ação correspondente, produz mutações no mundo dos fenômenos, e desde que haja mudança, alteração constante, deve haver luta; dessa luta resulta o desenvolvimento, o progresso, e este é necessário ao ser.

Ora, consideremos o indivíduo como a base de um grupo, porque o indivíduo tem a mais alta importância. O grupo é composto de indivíduos, e, portanto, se vós — o indivíduo — desejais ter a capacidade, por escolha contínua, de discernir, por vós mesmo, sobre o que é essencial, não devereis então tentar adaptar-vos à sociedade. Desde que um indivíduo tenha resolvido seus problemas particulares, suas inquietações, suas preocupações, suas emoções, seus desejos, suas angústias, suas dores, então o que expressar será ele próprio, e por essa mesma consecução trará ordem e harmonia para a sociedade ou grupo.

A civilização é a expressão do indivíduo, mas, de nenhum modo, é a manifestação do eu completo. O conflito, a corrupção, a exploração, a usurpação do poder nas mãos de alguns, são o fruto de ignorante esforço individual. Mas, desde que compreendais a discórdia individual, pelas vossas próprias lutas, vossas próprias aflições e desafeições, vossas próprias reações — então, no mundo dos fenômenos, no mundo da civilização, haverá uma alteração, uma mudança para a ordem, harmonia, cultura. A cultura pertence ao “Eu”. A educação do “Eu” deve ser nossa principal preocupação. Falo aos professores, e, naturalmente, eles estão preocupados com a educação daqueles que são mais moços do que eles; mas, eventualmente, o indivíduo pelas suas próprias preferências contínuas, torna-se uma lei para si próprio. Esta preferência é a contínua descoberta da verdade. Desde que estais cultivando a capacidade de escolher, de discriminar, sem respeito a grupos, nações, classe, credo, estais descobrindo a verdade. A mais alta inspiração do homem é ser consumadamente inteligente, não simplesmente intelectual. A inteligência é muito maior que o simples intelecto, porque a verdadeira inteligência é fruto da experiência — a experiência da razão e do afeto — e isto é intuição.

Enquanto vós, como indivíduo, como ser humano à parte não tiverdes resolvido vosso problema, não tiverdes compreendido o objetivo e significado da luta, não podereis auxiliar, realizando o milagre da ordem num mundo de caos. Este é o verdadeiro objetivo da educação — não adaptar o indivíduo à sociedade, não fazê-lo repulsivamente harmonioso com ela, mas obriga-lo a pensar e agir independentemente, para desenvolver essa consumada inteligência que está sempre escolhendo o essencial.

Assim, o grupo, a massa, a nação são compostos de indivíduos, mas se considerardes que o indivíduo se manifesta coletivamente, vereis, então, que o mundo, a massa, o grupo, fica entre o “tu” e o “eu”. Se o indivíduo assim faz, a batalha, a continua corrupção, a exploração do “tu” e do “eu”, cessam. Assim, minha conclusão é que enquanto o indivíduo for corruptível, enquanto o indivíduo tiver interiormente caos, até que ele próprio se compreenda, e conclua claramente, por si mesmo, o caminho que deve seguir, haverá o caos em redor dele. O indivíduo, por sua incorruptibilidade, produz ordem no mundo.

Não pode ser o objetivo da educação, quer seja do jovem ou do ancião, — o adaptar o indivíduo a um ambiente. Se estiverdes lutando dentro de vós mesmo, como devereis estar, não poderá haver harmonia entre vós e a sociedade, não podereis confiar nela. Se considerardes o que está acontecendo no mundo, descobrireis que o homem — e a mulher também, pois são iguais, porque têm os mesmos desejos, as mesmas ambições, embora tenham expressões físicas diferentes — está sendo modelado, está se tornando um dente da engrenagem de uma máquina que funcionará suavemente, para adaptar-se à sociedade, à nação — sem um combate, sem uma luta. Em outras palavras, ele está transformado em um modelo, em um padrão. A vida detesta o padrão, porque qualquer modelo é incompleto, e todo o indivíduo que é modelo, traz no coração a incomoda carga da imperfeição. Um indivíduo não deve tornar-se um modelo, deve ser completo, e por isso não pode adaptar-se à sociedade, porque a sociedade ou grupo está sempre procurando criar um modelo.

Ora, se examinardes os resultados dos sistemas educacionais, vereis que, na maioria dos casos, o indivíduo, depois de sair da universidade ou de outro centro qualquer de educação, adapta-se convenientemente em um molde criado para ele pela sociedade. Em outras palavras, ele adora o sucesso. Observai a máquina inteira da civilização. Todas as honras são conferidas ao homem que é bem sucedido com o grupo, e em seus negócios, e, por conseguinte àquele que é vulgar. Ter dinheiro, acomodar-se à rotina da sociedade, ser vulgar — chama-se sucesso. Não sou contrário à criação para todos de condições físicas saudáveis, mas contrário à asfixiante pressão sobre o indivíduo para acompanhar a massa, que somente parece assegurar-lhe o prestígio procedente do grupo. Ser diferente do grupo é ser desprezado, é ser considerado perigoso. Para pensar com independência, livre do que vos cerca, livre do julgamento de vossos vizinhos, de vossa sociedade, vossa nação, toda vossa raça, é incorrer em condenação. Sereis expulso da sociedade, se não vos adaptardes ao molde.

A vida é um processo contínuo, no qual experimentamos, assimilamos e rejeitamos. Se vos transformais num modelo, não podereis nunca assimilar ou rejeitar, não tereis a capacidade de escolher, e, desse modo, vós vos tornareis um autômato, uma pessoa morta. O meu ponto de vista é que o pensamento independente é necessário para uma ação real; e para pensardes sem dependência, não devereis adaptar-vos a qualquer espécie de encaixe, nem cegamente aceitar o que os outros digam.

Depois vem a religião. Adorando rótulos, adorando alguém, moldando-vos pelo modelo de uma pessoa, quer seja Buda, Cristo ou Maomé, tereis estabelecido um modelo fora de vós mesmo, um modelo de janela de vidro de cor e vós mesmo vos moldais por ele. Ainda, vós vos transformares num padrão e o vosso coração e a vossa mente, serão moldados ao feitio de outrem. Por maior, ou majestoso que alguém possa ser, a vida detesta o molde. Em religião, estais sempre unido a uma autoridade, àquilo que alguém disse; imaginais que a espiritualidade é a ortodoxia. Daí criou-se a teoria da espiritualidade. Na Índia supõem-se que deveis ser pobre, feio e sujo para serdes espiritual. Aqui tendes também uma teoria da espiritualidade, embora seja expressa diferentemente. Porque tendes uma ideia fixa da espiritualidade, fazeis a totalidade da vida adaptar-se a essa teoria; forçais a vossa vida, a torceis, a fazeis horrível, para acomodá-la a essa teoria; e viveis à sombra de outrem, tornando-vos um modelo, uma pessoa morta.

O mesmo se dá em qualquer direção do pensamento, na administração, na política, no trato social, na religião, na educação; estais simplesmente criando padrões e não um homem completo.  

Por que vos transformais num padrão? Por que imitais alguém? Por que seguis a autoridade? Em assuntos espirituais não pode haver autoridade; em pensamento e crença não pode haver autoridade; só a experiência tem importância. A experiência é o único mestre. Por que, então, vos transformais num modelo, numa máquina? É porque o modo representa papel predominante em vossa vida. Receais vossos próprios pensamentos, sois indeciso; e daí procurardes guias em assuntos espirituais. Desde que haja o desejo de conforto, vem o medo. A luta ocasiona receio ou entendimento. Desde que receais lutar, procurais amparos, procurais autoridades em assuntos espirituais, é preciso que se vos diga o que está direito, o que está errado, o que é insucesso, o que é sucesso. Mas desde que haja o desejo de entender esta imensa luta que se trava, não sereis dominado pelo medo e experimentais compreender toda a experiência que vos aparece.

A conformidade não é cultura. Não podeis vos educar pela conformidade. Precisais formar ambientes próprios, de modo que o indivíduo esteja sempre lutando, escolhendo, assimilando e rejeitando, e, assim, crescendo. A individualidade não é um fim, em si mesma, porque a individualidade é divisão, e a individualidade está experimentando sempre, pelo contínuo contato com a vida, derrubar a barreira que a separa das outras. Em outras palavras, a individualidade forma-se de nossas reações inconquistadas. As reações criam barreiras e divisões. Mas, desde que tenhais conquistado vossas reações, não há barreiras nem divisões. Portanto, é o ego, a individualidade que não transformou sua reação, que cria barreiras. Mas, o verdadeiro eu reside na região da ação pura; assim para atingirdes esse eu, para encontrardes a ação pura, deveis ir pelo processo da reação, das atrações e repulsões, gozos e prazeres, aflições e dos grandes êxtases, e, gradualmente, eliminar todas as reações, até chegardes à vossa própria morada, da qual agis, mas onde não há reações. Este é o objetivo da vida.

Por conseguinte, a previdência em todas as coisas, em vosso atos, vossos pensamentos e vossas emoções, e um propósito que não nasce das reações, são a mais alta espiritualidade, e não o conformar-se a um padrão.

Deveis criar em vós mesmo, no auge do conflito, entre a emoção e a razão, o desejo de estar perfeitamente equilibrado. Mas, para chegardes ao equilíbrio, deveis passar por essa luta extrema, não podeis fugir ou cansar-vos do mundo. Desde que estais no auge da luta entre a emoção e o pensamento, aparecer-vos-á o desejo de estardes perfeitamente equilibrado e começareis a vos equilibrar. Podeis ter numerosos livros que expliquem todas as vossas aflições e vossas lutas, vossas dores e vossos gozos. É muito fácil modificar as coisas por meio de uma explicação. Isto é o que todas as pessoas estão procurando — explicação. O homem que, de fato, está aflito, procura explicação? Se morre alguém que amais, de que vos servem as explicações? Delas precisais, porque estais isolado. A solidão não pode ser modificada em virtude de uma explicação. Nenhuma quantidade de teorias ou explicações fará a solidão desaparecer. Mas, desde que estais realmente lutando na tristeza, e sentis ser essa tristeza a mais profunda possível, estareis, então, procurando o caminho, a causa da tristeza como que se torna, então, uma terra em que devereis crescer, uma terra de nutrição, não uma coisa a ser evitada.

Ora, o enriquecimento da vida pela experiência contínua é pura ação, é incorrupção. A pobreza da vida, a falta de experiência, é corrupção. Assim, não deveis amoldar-vos por um tipo. Deveis ser o todo, abranger tudo. O pensamento que, a princípio, é pessoal, está pela experiência evoluindo cada vez mais para o impessoal, e, quando o pensamento é impessoal, é inteligente. E a inteligência vos levará a esse estado de pura consciência que é a consumação da vida humana. Estar perfeitamente equilibrado nessa ação pura, é a meta da vida, o resultado de toda a experiência; então, a vida é rica, integra, toda-integrativa — completa; então os vossos problemas, como um único, estão resolvidos, e estareis apto a dar ao mundo aquele perfume, aquela compreensão que é necessária à manutenção do todo.  
    
Krishnamurti em discurso aos professores em Los Angeles, 10 de abril de 1930
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill