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sexta-feira, 15 de julho de 2016

Amolde-se à verdade e não a teoria

Tentarei esta manhã resumir minhas palestras da semana passada; e se claramente quiserdes entender oque vos digo, deves acercar-vos com o desejo real de compreender. Usarei de termos vulgares e a vós compete o tornardes estas palavras barreiras ou ponte para sobre ela passardes além. Alguns de meus enunciados poderão parecer-vos dogmáticos; se, porém, os escutardes com mente desprevenida verificareis que eles brotam da plenitude do entendimento e da experiência da vida.

Na confusão e turbilhão da existência, pelo seu contínuo pipocar e em seu conflito, todo o indivíduo no mundo inteiro é colhido. Para entender o significado disto é preciso primeiro aprende-lo intelectualmente e depois levar as teorias intelectuais à prática. O homem que constrói uma ponte entre o seu pensamento e seus atos, é um homem verdadeiramente culto. E, desde que o pensamento vem primeiro, é na verdade necessário que seja um pensamento verdadeiro. Portanto, necessitais de abordar este problema com a mente clara e sintética, liberta de preconceitos, vaidades e superstição — uma mente que deseje sondar a raiz real das coisas e não meramente vagar pela superfície.  Tendes que averiguar o que é que esta vida centralizada e focalizada no indivíduo se esforça por levar à prática; pelo que é que ela luta, e como pode ela encontrar um caminho através do conflito de propósitos, das irrealidades e ilusões que a circundam. Semelhante a um pássaro que abre seu caminho, por uma tarde, através de toda a confusão de uma cidade ruidosa, em direção ao seu ninho, assim deve cada qual encontrar o propósito último da existência — essa meta na qual se encontram o começo e o fim de todas as coisas.

Para atingir esta verdade devemos nos tornar capazes de inquirir sem embaraços. Quisera que examinásseis o que digo inteligentemente; e, por inteligência entendo eu a colheita do que é essencial e o deixar de lado o que o não é. Quando mediante uma tal inteligência houverdes extraído o que é essencial, então deveis assimilá-lo — isto é, vive-lo. A principal dificuldade ao tentar compreender a verdade é que cada indivíduo que busca tende a interpretá-la, adiantadamente, à sua maneira particular. Estabelece uma teoria acerca da verdade e, em vez de amoldar-se à verdade, amolda-se a teoria; e por esse modo temos inúmeros tipos daquilo que se supõe ser “espiritual”. Uso a palavra “supõe” propositalmente.

Existe, por exemplo, a suposta espiritualidade do asceticismo. É uma ideia fixa existente na mente de muitos a de que ser asceta é ser espiritual. Mas, realmente, o asceta é somente um homem que se atemoriza do mundo. Ele odeia o mundo e todas as experiências que ele lhe pode oferecer. Encurtando, é um homem que rejeita a vida.

Depois, vem o tipo de espiritualidade que aguarda uma intervenção miraculosa afim de salvá-lo das lutas e tristezas da vida. Em vez de lutar na direção da regeneração, tal homem quisera antes que algo de súbito lhe acontecesse que viesse alterar completamente sua visão mental. Em lugar de vencer a tristeza, quisera que certa “Mão de cima” lhe adoçasse as agruras do coração e a febre da mente e assim lhe trouxesse a paz.

Depois vem ainda o tipo que pretende imitar. A imitação jamais pode atingir a beleza, por ser contrária à vida. Toda imitação é mecânica; pertence ao mundo da ortodoxia, da tradição e da imitação, — ao mundo da corrupção.

Finalmente, vem o tipo que busca evitar o entendimento real, tomando refúgio em um sistema intelectual. Todos os sistemas são invenções da mente. A vida, em si, não tem sistemas, pois que está sempre em movimento; sempre crescendo e combatendo. Sistematiza-la, portanto, é aprisiona-la, é negar sua qualidade vital. Por este motivo o intelecto puro jamais pode compreender; nem pode a sua antítese, que é o puro sentimento, jamais entender. Necessita-se de força para o entendimento; mas o sentimentalismo é sempre fraco.

Para chegar à verdade, pois, tendes que apagar todas essas supostas espiritualidades. Não estabeleças um tipo para depois vos esforçardes por vos tornardes mais nobres mediante esse tipo. A busca da verdade não deve estar sobrecarregada pelos preconceitos. Deve estar liberta das limitações impostas pela tradição, pelas circunstâncias, pelos sistemas intelectuais. Ela inicia-se pelo auto-exame. Precisais achar qual é o vosso interesse particular e o que é que realmente estais buscando. O conforto ou o crescimento? Para averiguardes isto tendes que ter em vista o vosso próprio desejo — o vosso, entendei bem, não o de outrem. É fútil gastar tempo a considerar sobre o que outrem pensa, ou sobre o que imaginais que pensa — pois que jamais o podereis saber. A única pessoa que pode ser perscrutada sois vós próprios.

Ora, o desejo que for contrário à crença geral, é o mais precioso bem do homem. É a chama eterna da vida. Quando, entretanto, sua natureza e funções não são compreendidas, torna-se agressivo, cruel, estático, bestial e estúpido. Portanto, o que vos compete não é matar o desejo, que é o que a maioria das pessoas espirituais do mundo se esforçam por fazer, mas, sim, compreende-lo. Se matardes vosso desejo assemelhar-vos-eis ao ramo murcho de uma árvore linda. O desejo deve continuar crescendo e encontrar seu verdadeiro significado por meio do conflito e do atrito. Somente pela continuação do conflito pode vir o entendimento. Isso é o que a maioria das pessoas não vê. Logo que vem o conflito — e a tristeza nasce do conflito — imediatamente buscam o conforto. O conforto, por seu turno, acalenta o medo. O medo conduz à imitação e ao abrigar-se por detrás das tradições estabelecidas. Destas provêm os rígidos códigos de moral, estatuindo o que é espiritual e o que não é, o que é vida religiosa e o que não é vida religiosa. É o temor da vida que produz os guias, os instrutores, os gurus, as igrejas, as religiões. Eu digo-o, porque sei.

Nenhuma destas coisas satisfará a mente que realmente seja inquiridora, que realmente esteja em revolta. Logo que vos atemorizais, advêm o desejo de vos amoldardes, de escutardes a outrem, seja ele quem for, a vos tornardes uma máquina, um tipo. E tudo isto é apenas contradição, e a contradição é tarda, é a morte. Não é por esta forma que o desejo poderá jamais preencher-se a si mesmo. O crescimento pode vir apenas mediante a libertação do desejo e a libertação aqui significa o libertá-lo de todo o temor e, portanto, da crueldade da exploração que resulta a busca do conforto, o qual é um refúgio para o temor. E isto, por seu turno, somente pode ter lugar mediante o esgotamento do egoísmo pelo desejo, pelo contato com a própria vida. Somente por esta maneira pode a realidade ser atingida, a qual é a verdadeira consumação do desejo. E, portanto, verdadeiramente, crescer é aprender a amar mais e mais, a pensar mais e mais impessoalmente, por meio da experiência.

O desejo, liberto de suas limitações e da ilusão do medo, torna-se alegria, que nada mais é do que o verdadeiro equilíbrio entre a razão e o amor. Sendo a princípio pessoal, limitado, cheio de ansiedade, apegado, cresce ele pelo sofrimento, até tornar-se todo-integrante, até tornar-se como o sol poente que dá e nada pede em troca. Do mesmo modo, pela continua experiência, pelo assimilar e rejeitar torna-se o pensamento de mais em mais impessoal. Quando ambos, pensamento e desejo houverem nascido purificados, então obtemos o perfeito equilíbrio e a harmonia entre os dois, que é o preenchimento da vida e do que falamos como intuição. Uma tal vida assim purificada constitui a mais alta realidade e, digo eu, que todo o homem e mulher tem de mais cedo ou mais tarde atingi-la. Ela não se acha reservada para os poucos, pois que a vida não é a posse de poucos. É aquilo que luta pela realização em todo o ser humano, e o caminho para a realização é o mesmo em todos os casos. É mediante a luta, o esforço e o conflito.

Agora, esta realidade é algo que eu afirmo haver atingido. Para mim ela não é um conceito teológico. É a minha própria experiência, definida, real, concreta. Posso, portanto, falar do que é necessário para sua consecução, e digo que a primeira das coisas é o reconhecer exatamente aquilo que o desejo deve tornar-se a si próprio afim de que a todo o momento exerçamos vigilância sobre os nossos desejos e os possamos guiar em direção a essa coisa toda-integratividade do amor e do pensamento impessoal que deve ser a sua verdadeira consumação. Quando houverdes firmado a disciplina deste constante apercebimento, desta constante vigilância sobre tudo o que pensardes, sentirdes e fizerdes, então a vida deixa de ser tirânica, tediosa e cheia de confusão que é para a maioria dentre nós, e torna-se apenas uma série de oportunidades, de crescimento, na direção da perfeita consecução.   
A meta da vida está, portanto, não algo distanciada, para ser atingida somente em um futuro distante, mas deve ser realizada momento a momento neste AGORA que é todo eternidade. Em uma tal realização cada momento domina o futuro; pelo que fordes agora tornareis a vós próprio senhor do dia de amanhã. Para compreender a vida e vive-la com entendimento tendes que vos libertar de todas as ilusões que o desejo projeta em seus esforços para crescer. E isto subentende que tendes de vos libertar do medo, pois que todas essas ilusões nascem do temor. Uma vez que tenhais atingido a coragem, então entendereis claramente o que é que o desejo procura realmente e de como pode ele atingir o seu fim. O homem que procura a felicidade e sabe o que está procurando, não deve abrigar o divórcio entre os seus desejos e ações. Sabendo o que o desejo realmente quer, traduzi-lo-á nas ações diárias. Por outras palavras, todas as suas ações evidenciarão essa estabilidade da razão e do amor, que constitui a verdadeira nota do desejo, pois que a libertação é vida.


Krishnamurti em Acampamento de Ojai, 1 de julho de 1930
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill