Pergunta: O vosso ensino de que moral alguma é necessária não será
cheio de perigo para os jovens que não houverem ainda estabelecido qualquer
ideia sobre a sua meta?
Krishnamurti: Quando digo
que moral alguma é necessária, não quero dizer que vos deveis abandonar às
indulgências. O que pretendo acentuar é a distinção entre a moral e a vida, ou
antes, entre a percepção das coisas e a consciência. A pessoa “moralmente
limitada” é para mim, aquela que se atemoriza de entrar na corrente da vida.
Hesita a todo o momento colocada sobre a riba. O homem que realmente procura a verdade
imerge e, portanto, alcança a outra margem. No fim de contas, quem é que vos
pode dizer o que é moral e o que é imoral a não ser a vossa própria
experiência? É isto o que todos os jovens estão fazendo no mundo neste momento.
Eles querem buscar as coisas por si mesmos. É verdade que existe caos nas suas
experiências e que o abandono das antigas disciplinas conduz frequentemente à
licença. Não são, porém, também, caóticas as vossas vidas — vós que tão moralizados
sois, de lábios limpos e feições carrancudas? A vida é, como frequentemente o
tenho dito, um processo de crescimento. E, portanto, a vida que ultrapassa as
limitações da moral jamais pode encontrar satisfação na autoindulgência. Se
pensais que o alijamento da moral significa indulgência, experimentai — e
verificareis dentro em pouco que a constante voz da intuição, que é a voz da
vida, vos impele para trás. A espiritualidade de reflexo que haveis
estabelecido nata tem que ver com a vida. Se por detrás dela vos abrigardes,
estareis vivendo em vossas próprias ilusões. E se alguém vos apontar isto
ficareis com os lábios ainda mais cerrados, a garganta mais abafada e mais
endurecidos nos vossos absurdos intelectuais.
Pergunta: Após haver assistido aos dois Acampamentos precedentes e
alcançado uma verificação da meta, desembaracei-me dos auxílios externos para
atingir a felicidade. Um sentimento de incerteza interna e de solidão persiste,
porém, por vezes; mesmo os afetos parecem terem secado e no entanto, por
esforço algum de vontade posso eu modificar esta condição. Tudo que me é dado
fazer é tentar deixar de lado os costumes, levando, tanto quanto posso de
perfeição, à ação na vida diária. E no entanto persiste a desolação do coração.
Como posso eu obter alívio para esta condição? Estarei por acaso sustentando um
bom método? Este parece ser o problema geral de muitos com quem hei falado.
Krishnamurti: É preciso haver um estágio inicial
no qual vossa mente e coração estejam como um deserto. Vacuidade não é negação.
Ela é necessária se quiserdes abrir espaço para plantar coisas de verdadeiro
merecimento. Se estiverdes solitários e os vossos afetos fenecerem, significa
isto que estais sofrendo; e do sofrimento provém o afeto, a alegria e o impulso
para crescer. Crede-me, estais em uma condição muito mais feliz do que a do
homem que se sente perfeitamente à vontade e contente com as coisas exteriores.
Krishnamurti
em Acampamento de Ojai, 1930