Pergunta: Quando dizeis que o Ego é formado de reações, tendes em vista
significar o que estamos acostumados a denominar Ego — a vida manifestando-se
através do Corpo Causal? Ou entendeis o que estamos habituados a denominar
personalidade?
Krishnamurti: Para mim, —
quando digo “para mim” não o digo com incerteza, e sim por polidez — o Ego é a
parte divisória entre homem e homem. Tenha ele sua sede no corpo causal ou no
corpo físico, é coisa que sinto ter muito pouco importância. O que é importante
é derrubardes essa parede. Que importa onde ele se encontra ou a que plano
pertence? Mais uma vez tomais refúgio num sistema. Eu não sei o que será de
vós. Estais fora de contato com a vida e suas lutas, suas tristezas e dores —
tão perdido em vossos sistemas que não tendes piedade do homem que caminha
pelas ruas. Quereis que eu vá convosco até o vosso cimo particular de
auto-satisfação e ilusão. Quereis que a vós me reúna no estudar as altitudes e
as profundezas do Ego em vez de destruí-lo. O Ego é apenas as vossas reações
não vencidas; para destruirdes o Ego tendes que viver na ação pura, na unidade
que é Eterna. Sei que vos não interessais por nada disto. Seis que se vos
falasse do plano no qual o Ego vive, ou das cores de vossos vários corpos,
todos vos sentaríeis a tomar notas. Todos vos interessais muito mais por essas
coisas infantis. O homem que está triste não necessita de uma explicação da
tristeza; quer ser dela aliviado. Vós vos contentais com explicações porque vos
atemorizais de resolver vossas próprias tristezas e delas vos libertardes.
Pergunta: Por meio de uma dessas denominadas sociedades de cultura
aprendi a razão e a finalidade da vida; de certo modo aprendi como viver,
extrai do conhecimento acumulado das idades, uma visão mais ampla; aprendi a
incluir o animal na minha fraternidade; a tomar a responsabilidade do mundo tal
como a encontrei e a deixa-lo melhor pelo fato de nele ter estado. Esforcei-me
por viver melhor, pois o que aprendi é para mim os princípios elementares do
viver em sociedade. Hei-de, pois, negar àqueles que vêm após mim o direito de
aprenderem como eu aprendi, deixando de apoiar uma tal instituição? Não pode a
informação e a associação e intercâmbio de experiências tornar-se uma fonte de conhecimento?
Krishnamurti: Voltamos
uma vez mais às instituições. Sei que repudiareis o que eu digo, mas, apesar
disso, por obsequio, prestai vossa consideração, vosso pensamento real, ao que
vossas instituições, vossas filiações, e vossas sociedades são. Disse eu que as
sociedades baseadas na crença não tem valor para o homem; disse, porém, também,
que precisais de instituições para executar coisas objetivas. Pensais que por
vos reunirdes e trocardes ideias, por pertencerdes a uma associação, sereis
fortificados para a vossa luta. Que coisa fácil pertencer a algo onde todas as
pessoas pensam da mesma forma! Se realmente eu entendesse que as instituições
eram uteis, teria conservado a minha em meu redor. Nada me teria sido mais
fácil do que isto. O ponto onde eu e vós divergimos é o em que vós atribuis
certo valor espiritual oculto às sociedades e instituições, ao passo que eu não
atribuo. Pessoalmente, não pertenço a instituição alguma. Abandonei-as todas,
porque para mim era a coisa única a fazer. Se tratardes tais corporações como
meros gabinetes de informação, então nelas não haverá mal algum, mas, a partir
do momento que as tenhais como coisas necessárias ao vosso crescimento
espiritual, então ter-vos-eis tornado escravos das instituições. Não sei porque
me fazem tal pergunta por toda parte por onde ando; mas fazem-na. Temo que
todos esses inquiridores pertençam a sociedades e me encarem como alguém que os
desafia. Deixai que mais uma vez eu repita que nenhuma instituição encerra a
verdade. A verdade está no homem. Está em vós, potencialmente, seja qual for o
estado de evolução em que vos encontreis, jamais porém havereis de verificar
isto se continuamente vos apegardes às instituições. Srs., pertencei ou não a
elas. Não continuemos a discutir esta coisa uma vez e outra. Se compreenderdes
o ponto central, todos os detalhes serão compreendidos. Se não entenderdes a
realidade central do que estou dizendo, então os detalhes são se amontoarem
serão colossais.
Krishnamurti em Acampamento de Ojai, 1930