Pergunta: Sugeristes que deveríamos fixar nossa meta. Dizeis que
alcançastes a meta que, para vós, é a liberdade, a libertação e felicidade. Quando
tento ficar minha meta, verifico que não é fácil. Nada se me afigura definido
quanto à meta. Por que norma sugeris que eu pense, ou atue, de modo a poder perceber
minha meta, embora obscuramente?
Krishnamurti: Amai vossos
amigos. Não é esta uma meta em si? Tendes algumas ideias intelectuais abstratas
sobre isto. Se procurais alguma coisa além, é isto, naturalmente vago, difícil,
incerto. Mas, ao mesmo tempo estais passando por cima das pessoas. O que
interessa é o que fazeis agora, como agis e reagis, como procedeis, como
pensais agora — não o que fareis futuramente. Que tem o futuro com aquele que
está na tristeza? A meta ou o início da percepção da meta está muito próximo; está junto de vós,
está em vós. Estais tentando aceitar minha meta, minha definição de
meta. Quereis fazê-la concreta, apertá-la, para vossa percepção. Não o posso
fazer. Se o fizesse, nenhum valor teria para vós. Mas se percebeis vós mesmo a
meta, então, todas as vossas ideias, toda a vossa vida, todo o vosso sofrimento
seriam a meta. Seria a meta de todos naturalmente, porque todos estais
sofrendo.
A pergunta é “por que norma sugeris que eu pense ou atue,
de modo a poder perceber minha meta, embora obscuramente?” Como posso eu
sugerir o que deveis pensar? Quando estais na tristeza, ou na solidão, ou
estais na dor, não perguntais a outrem: “Como devo livrar-me disto?” Experimentais
caminhos e meios de vos livrardes e não vos sentais e tentais compreender como
vos envolvestes em tal situação. Quando tendes fome, que fazeis? Se sois de
índole má ides roubar, pedir ou fazer alguma coisa. Não vos sentais e pesquisais
a causa da fome, o que é a meta da fome. Esta é a razão porque eu disse que a
verdade é uma questão puramente individual, não para ser conhecida através de
qualquer profeta, através de qualquer guia, ou através do vosso próximo. Se compreenderdes a
vida através de vós mesmo, ela será a vida de cada um, porque o eu é o mesmo,
tanto em vós como em mim; e se tiverdes penetrado, enriquecido,
tornado perfeito esse eu, então compreendereis o eu de cada um e de tudo.
Krishnamurti em reunião de
inverno em Adyar, 31 de dezembro de 1929