Pergunta: Se temos de fixar nossa meta inteligentemente, devemos saber,
pelo menos, alguma coisa a seu respeito, ainda que possa ser vagamente. Com o
fim de nos habilitar a fazê-lo, podereis ter a bondade de explicar se a meta ou
a liberdade de que falais é a liberdade dos obrigatórios nascimentos e mortes
de que outros falam? Outrossim, se essa meta é o passo final no atingimento ou
é um na série dos passos?
Krishnamurti: Não vou
responder a esta pergunta, porque não vos devem preocupar os nascimentos e
mortes. O que vos deve interessar é a vida presente. Quando cultuais a morte,
como faz a maioria das pessoas, precisais saber tudo a respeito dela, quais são
as suas qualidades, se há nascimento e renascimento. Mas, se estais concentrado
no viver presentemente, profundamente focado no presente, então não tendes
receio da morte ou do renascimento. Não estou fugindo à pergunta; não estou
interessado com o nascimento ou a morte. Não me preocupa se renascentes ou não.
Nenhum valor tem isso; o que é valioso é como estais vivendo agora. Porque o
dia de hoje encerra o passado e o futuro, o espaço e o tempo, tudo. O todo da
existência está no agora. Isto não é uma coisa metafísica, extraordinária de
compreender. O agora projeta-se no passado e no futuro, em ambos os sentidos,
em todos os sentidos, e um homem que vive sinceramente se preocupa com a
tentativa de se fazer cada vez mais perfeito no presente, cada vez mais
incorruptível no presente. Se estais com fome agora, não vos adiantará saber
que sereis alimentado dentro de dez dias. Se estais sofrendo de alguma moléstia
vital, precisais ser curado imediatamente, não estais preocupado em saber como
a apanhastes e qual será o fim dela. Precisais ser curado, se estiverdes
sofrendo. Assim, se posso sugeri-lo, não vos deveis preocupar com estas coisas,
mas concentrar vossa mente, vossos pensamentos, vosso desejos, no presente e
não no futuro. Para viver no presente, no agora, para ser profundamente
cauteloso no agora, é preciso grande
concentração. Exige tal energia que preferis procurar alívio na morte e no
renascimento. Atendei a isso, porque é vital, essencial que sejais
incorruptível agora, que tenteis compreender agora, e não confundais aquilo que
vos fica adiante ou atrás. Há inúmeras teorias a respeito do que está aquém e
do que está além. Aceitais uma ou outras. Do meu ponto de vista, qualquer que
seja a teoria que adoteis, não tem valor. Mas, o que tem valor é o que sois
agora, como estais lutando agora, de que modo estais fazendo vosso amor cada
vez mais incorruptível, quais são as vossas reações, de que modo tratais vossos
amigos, de que modo considerais os outros dentro do vosso coração. O
prisioneiro sabe que será solto da prisão alguns anos mais tarde, mas quer ser
solto imediatamente. Um homem que está preocupado em resolver o imediato do
ponto de vista do eterno não tem futuro e nem passado. Deveis solve-lo do ponto
de vista do eterno, que é vida, não só a vida do indivíduo, mas a vida do todo,
não o vosso futuro imediato, mas a totalidade da vida. Assim, se puderdes
lutar, compreender e viver no presente, batalhando com poderosa energia, então
não haverá, para vós, em nascimento e nem morte.
Krishnamurti em reunião de
inverno em Adyar, 31 de dezembro de 1929