A vida em si é um processo e somos todos “seres em processo”. Nenhum de nós já alcançou à plena maturidade, nenhum de nós já chegou a perfeição. Somos todos frações a caminho de nos tornar números inteiros. Lembro-me de uma vez ter lido no distintivo que uma mulher estava usando: “Deus ainda não terminou nenhum de nós. Estamos todos a caminho de pleno crescimento e potencial pessoal”. E, certamente, todos precisamos de muita paciência durante o processo — nossa própria paciência e a dos outros.
Em recente pesquisa sobre a morte e os moribundos, descobriu-se que a pessoa que está à morte passa geralmente por cinco etapas a caminho da aceitação pacifica da morte. Essas etapas poderiam ser caracterizadas como:
1. Recusa (Não, eu não!)
2. Raiva (Maldição! Porque eu?)
3. Regateio (Sim, eu mas e se…?)
4. Resignação desanimada (Sim, vou morrer, mas me sinto muito triste por deixar este mundo.)
5. Aceitação pacífica (Minha tarefa está terminada. Agora estou pronto para atravessar as portas da morte.)
Pessoas que entram em contato com moribundos nos previnem que esse movimento gradual em direção da aceitação pacífica da morte é um processo. Avisam-nos que se tentarmos mover os moribundos da etapa em que na verdade estão para a etapa em que gostaríamos que estivessem, provavelmente interromperemos todo o processo. Deve-se deixar as pessoas atravessarem o processo de morrer em seu próprio ritmo. A verdadeira aceitação de um moribundo significa que também aceitamos o ritmo e os sentimentos dessa pessoa em cada etapa.
Uma orientadora conta a história de uma mulher moribunda que lhe perguntou:
— Este hospital tem uma sala onde se possa gritar?
A orientadora respondeu com calma:
— Não, mas há uma capela onde pode rezar.
A pessoa moribunda explodiu:
— Se eu quisesse rezar teria perguntado pela capela. Quero gritar!
Obviamente ela estava na segunda etapa e a conselheira reconheceu o erro de tentar afastá-la de sua raiva. A conselheira sentiu-se constrangida com a raiva e preferia a aceitação pacífica. Quando tentamos acelerar o processo frequentemente é porque erroneamente pensamos que isso ajudará.
Além disso, quando alguém está na etapa de aceitação pacífica é de muito mais fácil tratamento.
O processo do desenvolvimento e do crescimento humano é muito parecido com esse processo de aceitação da morte. Temos de nos mover em nosso ritmo e durante todo o processo precisamos ser aceitos no ponto em que estivermos. Sabemos, por exemplo, que não podemos exigir um comportamento consistentemente maduro por parte das crianças. Devemos deixá-las serem crianças e vemos aceitá-las como tais. Também sabemos que não podemos exigir um conformismo rigoroso de adolescente que estão tentando aprender a pensar por si mesmos e a tornar-se pessoas independentes.
Em realidade, desde a concepção até a morte, cada um de nós está envolvido em um processo de mudança e crescimento continuamente espiralado: nascimento-morte-renascimento em todas as fases de nossa personalidade. Cada etapa da vida tem em si algumas tarefas evolucionárias. Para realizar cada tarefa e promover nosso desenvolvimento pessoal, precisamos estar constantemente evolvidos em mudança (comprometimento com a verdade). Obviamente, mudar sempre envolve desistir de antigos e confortáveis comportamentos, a fim de adotar novos comportamentos mais amadurecidos.
Há morte e nascimento em toda mudança. E cada morte, seja grande ou pequena, parece exigir que passemos pelas cinco etapas do ato de morrer, antes de poder aceitar e sentir uma vida nova. Se os que nos amam nos aceitarem, “em processo”, essa será sua maior dádiva de amor para conosco. A viagem pela vida tem muitos vales que não podemos simplesmente evitar e também muitas montanhas a escolar; não podemos simplesmente pular por cima delas. Também é verdade que precisamos de espaço e de liberdade para cometer nossos próprios erro. Ensaio e erro parece ser a única maneira de poder aprender a crescer. A vida é primeiramente um processo. E, além do mais, esse processo é um ziguezague.
Consequentemente, não existem tiranos mais intoleráveis do que os que exigem que marchemos em seu ritmo, que nos adaptemos às ideias que tem para nós. Às vezes esses guardiões da consciência coletiva parecem estar dispostos a nos aceitar somente se estivermos em um ponto designado por eles. Não parecem dispostos a nos aceitar na condição humano de processo, que sempre envolve ensaio e erro. Não têm paciência conosco, “cometedores de erros”. Quais instrutores militares, só aceitam “sim senhor”.
Todos temos ideia de como a auto-revelação pode ser assustadora. Às vezes, parece que estamos rastejando por trás de velhos muros que nos esconderam e protegeram. É como se estivéssemos arrancando as máscaras e abandonando papéis, nossa única defesa. Estendemos com mãos trêmulas a dádiva de nossa fraqueza e honestidade. Desejamos que nossa auto-revelação seja aceita com carinho e compreensão. É claro que tentamos não demonstrar nossa insegurança. Enquanto esperamos os sinais de aceitação, podemos até afetar uma indiferença casual do tipo “não me importo”. Mas lá no fundo estamos prendendo a respiração e cruzando os dedos.
Quando alguém se recusa a nos aceitar no ponto em que estamos no grande processo da vida, é como se essa pessoa nos dissesse:
— Não o aceito, não quero o seu dom. Eu pretendia outra coisa, algo diferente, algo melhor e mais adiantado do que você. Não posso, de modo algum, aprová-lo como você é.
É claro que não nos fazemos discursos como esse. Quando não aceitamos um outro no ponto em que está, simplesmente demonstramos impaciência e desapontamento. Então, irrompemos com conselhos que não foram pedidos, geralmente sobrecarregados de sugestões de mudança e melhora.
É óbvio que aceitamos somente o que a pessoa pode vir a ser, não o que ela já é realmente. Como o Mindium se lamentou uma vez: “O maior fardo na vida é ter um grande potencial”.
Por que achamos tão difícil aceitar os outros no ponto em que estão no processo da vida? Por que tentamos mudá-los para um ponto onde preferíamos encontrá-los? Estou certo de que pessoas diferentes têm razões diferentes. Entretanto, o que provavelmente motiva a maioria de nós é isto: tememos a autocomplacência nos outros. Deduzimos que, ao aceitá-lo no ponto em que está, você pode simplesmente querer estacionar ali. Ficará satisfeito consigo mesmo. Não procurará se aperfeiçoar. De certa forma, essa tentação parece fazer sentido lógico, mas a verdade psicológica humana é muito diferente. A verdade humana é que, em face da não-aceitação e da censura, é muito mais provável que você e eu fiquemos arraigados a um ponto, estagnados. Teremos pouca vontade ou força para o aperfeiçoamento e o crescimento. De certo modo, perdemos nossa força se os outros continuam a mostrar desapontamento e constantemente nos dão dicas de mudança.
Talvez estejamos ignorando o fato de que cada pessoa tem uma inerente tendência natural a crescer. O crescimento pessoal é parecido com o crescimento físico. Quando olhamos para o corpo de uma criança, sabemos que tudo o que a criança precisa é de tempo e de nutrição apropriada. Em tempo o corpo da criança crescerá até o seu pleno desenvolvimento. Da mesma forma, quando encontramos outro ser humano em algum ponto no decorrer de seu processo e progresso pessoais, temos de ter fé em que com o tempo e a nutrição apropriada essa pessoa alcançará a plena maturidade.
A nutrição apropriada ao crescimento pessoal é uma carinhosa aceitação e o estímulo dos outros, não a rejeição e impacientes sugestões de melhora. Os humanos, como as plantas, crescem no solo da aceitação, não na atmosfera da rejeição. Dissemos que o crescimento pessoal se assemelha ao crescimento físico: todas as energias e tendências estão ali. Porém, na maioria de nós, existe uma guerra civil que atrapalha nosso crescimento pessoal. É nossa luta interior pela auto-aceitação.
O barulho e clamor, o jogo de empurra entre a auto-aceitação e a auto-rejeição produzem os parasitas emocionais que esgotam todas as nossas energias. Essas energias perdidas eram destinadas a promover e a produzir o crescimento. Cada um de nós passa por alguma luta interior com a ansiedade, a insegurança, os medos de incompetência e os sentimentos de inferioridade e de culpa. Essas forças negativas aumentam sua fúria quando somos criticados e rejeitados pelos outros. E quanto mais fortes elas se tornam, mais dolorosas se torna a guerra civil. A visão de nossos ideais fica obscurecida pela poeira desse conflito interior. As energias psíquicas que eram para ser digeridas à busca de crescimento murcham no calor da luta interior.
Todos somos afetados por essa condição humana de insegurança. Sempre que tentamos nos abrir, não importa quão indiferentes queiramos parecer a esse respeito, no fundo ficamos amedrontados. Cada esforço para ser totalmente honesto e franco parece ter um preço assustador. Precisamos mais que tudo de uma aceitação gentil e tranquilizadora. Precisamos de alguém que nos assegure que podemos ser quem somos e estar no ponto em que estamos.
Quando percebemos sinais de que nosso ouvinte não nos está dando atenção, quando percebemos sinais de impaciência e desapontamento, a guerra civil de nossos medos interiores se inflam. Os demônios da insegurança e da inferioridade que nos rondam começam a se aproximar para nos abater. Cientes de nossa posição perigosa, provavelmente acharemos que o melhor é ficar prevenido. Lentamente nos arrastaremos para trás de nossos muros de proteção. Encontramos as máscaras que havíamos jogado fora e decidiremos que é mais seguro usá-las. Concluiremos que é melhor do que correr o risco de ser real.
Por outro lado, se você aceitar no ponto em que estou, minhas energias e desejos de crescer serão libertados. Se você me assegurar que está bem estar no ponto em que estou agora, terei a coragem de avançar mais adiante. Também começarei a aprender que posso ser autêntico em minha comunicação sem ser punido por minha franqueza ou rejeitado por minha honestidade.
Leciono teologia em uma estrutura universitária. Não é de todo incomum nesse ambiente que os estudantes questionem a validade da fé religiosa. Durante anos, cedi à tentação de discutir, persuadir, refutar e contrabalançar as dúvidas manifestadas pelos estudantes com meu próprio sentimento de certeza. Quando finalmente tive a intuição de que isso era uma forma de não-aceitação e contrária a tudo em que verdadeiramente creio, mal podia esperar pela próxima oportunidade. Quando aconteceu, as antigas e comuns objeções pareceram brandas. Foram apresentadas de uma maneira que era um tanto cômica em vez de amarga e beligerante. Um jovem alto e simpático observou que não sentia Deus em sua vida, e duvidava de outros que diziam sentir. Talvez sentissem, admitiu, mas talvez apenas tivessem imaginações inflamadas.
— Ei, Joe, isso foi muito honesto da sua parte. Obrigado por se revelar tão francamente ao resto de nós. Você sabe onde estou Joe, aqui na frente, falando sempre sobre isso. Obviamente, você não está onde estou e isso é bom. Não se espera que você esteja onde estou. Mas eu gostaria de saber onde está, gostaria de ir até seu lugar e caminhar um pouco com você.
E assim, lá mesmo na sala de aula, Joe contou TODA SUA HISTÓRIA de dúvidas e certezas, então dúvidas sobre suas dúvidas etc… Quando concluiu sua história, agradeci-lhe mais uma vez. Tentei dizer o mais claramente possível que achava que era bom para ele estar na posição em que estava e que aceitava ali. Também mencionei que me lembrava de ter estado na mesma posição quando tinha a idade dele.
— Você está fazendo perguntas séries Joe, e isso é bom. Está sendo honesto sobre suas dúvidas e isso também é bom. De fato, você é um ótimo sujeito. Espero que saiba disso.
Este foi o começo de uma longa e muito apreciada amizade. Durante nosso subsequente partilhar mútuo, ambos é avançamos muito além de onde estávamos naquele dia na sala de aula. Acho que parte de nosso progresso é devido ao fato de que ele sabe que o aceito no ponto em que estiver, por sua vez ele me deixa ser eu mesmo.
Última palavra sobre o assunto. Estivemos discutindo a importância de aceitar os outros no ponto em que estiverem. Nosso contexto foi o da comunicação. É óbvio que há ocasiões em que os pais terão de disciplinar seus filhos em crescimento. Terão de proibir certos comportamentos prejudiciais. Terão de amar os filhos com o chamado “amor inabalável”. Também, no decorrer de amizades amadurecidas, há ocasiões e que temos de desafiar nossos amigos de maneira afetuosa. Da mesma forma, há situações que exigem que confrontemos aqueles que amamos. Por exemplo, se um amigo ou membro da família está se tornando dependente de drogas, o verdadeiro amor exige confrontação. Não podemos ficar assistindo de camarote enquanto aqueles que amamos se autodestroem.
Mas a disciplina, o amor inabalável, o desafio e a confrontação, todos sairão pela culatra se não forem construídos sobre os alicerces da aceitação. Em todos os nossos relacionamentos, precisaremos equilibrar uma ocasional não-aceitação de um comportamento com uma clara e contínua aceitação da pessoa.
É sempre absolutamente essencial que aceitemos a outra pessoa no ponto em que estiver no grande processo de se tornar um ser humano amadurecido. Assim, seja você quem for e esteja no ponto em que estiver em seu processo de vida: Nós o aceitamos e amamos!