Duas espécies de critica são
dirigidas a Krishnamurti — uma a de que ele nada tem de novo para dizer, a
outra, que o que ele ensina é tão revolucionário que, se fosse levado à
prática, produziria o caos e o egoísmo. Ambas essas críticas são devidas à
falta de entendimento.
Em relação à primeira, como
Krishnamurti disse, com verdade, não existe coisa nova sob o sol, porém todas
as coisas são novas para o homem que compreende. Quando chegardes a um novo
entendimento da vida, de seu significado e propósito, contemplareis um mundo
diferente e, no entanto, não foi o mundo que mudou, e sim vós mesmo. Todas as
coisas se tornam novas para o homem que continuamente se renova a si mesmo.
Que o ensino de Krishnamurti, se
fosse adequadamente compreendido e levado à prática, voltaria o mundo de cima
para baixo, é verdade, porque ele exige uma revolução em todo o nosso
pensamento e visão de vida; porém esta revolução conduziria à ordem, não ao
caos, produziria uma beleza maior na vida, em vez de maior feiura. É também
verdade que a tentativa de apegar-se ao antigo e apesar disso entender o que é
novo, produz o caos, tanto no indivíduo como no mundo. É impossível voltar-se
para dentro e para fora ao mesmo tempo, viver em liberdade e em cativeiro,
caminhar para o sul e para o norte. Tem que se fazer escolha, a mudança de
direção precisa ser radical. Não podemos sustentar que aceitamos as tradições e
crenças e apesar disso ficar livres delas. Krishnamurti é semelhante a uma vaga
gigante que varreu os alicerces sobre os quais nossas vidas estavam construídas
e temos que encontrar novos alicerces, novos tijolos, para com eles edificar de
novo. Se quisermos entende-lo, precisamos entender o que ele diz com mentes desprevenidas
e corações abertos, não temendo fazer face a tudo que isso possa implicar de
mudança, mesmo de despedaçamento do coração.
Boletim da Orden da Estrema nº 1, 1929