Pergunta: Parece seguir-se, daquilo que haveis dito acerca da
libertação, que o grau em que cada indivíduo se acha aproxima-o da realização
disto, pode ser medido pelo grau segundo o qual ele pode, espontaneamente e,
por assim dizer, automaticamente, amar e entender os outros. Isto parece
representar na efetividade prática, mais ou menos, aquilo que tendes por
estabilidade criativa do amor e da razão. Não será o que falais algures como
sendo “criação sem forma” meramente este amor e razão coletados e prontos a
agarrarem o que quer que surja em seu caminho — por outras palavras, o poder
criativo ou criatividade antes de que o material para a criação lhe haja sido
ofertado?
Krishnamurti: Certamente.
A espontaneidade provém sempre da vida
pura e ação pura, a consumação do esforço, da experiência. Daí, pode-se
medir (se é que precisais medir, o que eu penso ser vão e fútil), e julgar a
conduta própria e verificar por esse modo se ela é espontânea ou se nasce da
reação. Porém, para encontrar a espontaneidade da ação deve dar-se o começo
desse perfeito equilíbrio da razão e do amor.
Perguntais: “Não é aquilo de que
falais algures como ‘criação sem forma’ meramente este amor e razão coletados e
prontos a agarrarem seja o que for que se depare em seu caminho — por outras
palavras, sendo o poder criativo ou criatividade tal qual se acha antes de que
o material para a criação lhe haver sido ofertado?”
Certamente que é assim. Isto é pura vida. Quando há reação, o
amor exige um objeto para seu afeto. Não é assim? Quando o amor, para sua
sustentação, para seu bem estar, para sua felicidade, depende de um objeto,
esta não é a pura ação do amor. A
estabilidade do amor não exige objeto. Acha-se sempre ali; e quando um
objeto se apresenta, externa-se sempre em ação reta. Este amor mais elevado é
dinâmico, criativo, não tem necessidade de objeto. Ele é sua própria
imortalidade, é vida; e a vida é criativa, mesmo que não seja necessário
expressá-la na forma. Porém, para chegar a isto, precisais entender a forma, a
manifestação, e passar por ela.
Krishnamurti
em Reunião de Verão, Eerde, 17 de julho de 1930