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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Revelando a finalidade da vida

Naturalmente, quando não existe suficiente interesse ou desejo ansioso de procurar da vossa parte, é-me muito difícil palestras todas as manhãs; inventar algo de novo. Compreendeis que deve ser assim. Não posso de minha própria mente, inventar novas ideias, porém posso continuar, uma vez e outra, a descrever a mesma coisa sob um ponto de vista diferente. Será, porém, sempre a mesma a realidade fundamental.

Se, por outro lado, de vossa parte existisse a ansiedade real para atingir a percepção de novas ideias e de lutar por elas, então haveria cada vez mais que tomar e não cada vez menos. A partir do momento que inventeis ideias, elas se tornam teorias e nada têm que ver com a vida ordinária de todos os dias, e eu de maneira alguma me preocupo com ideias teológicas, com o inventar de novas concepções ou o criar de novos argumentos. Assim, tendes que vir aqui ansiosos de compreender, como eu estou desejoso de dar. Não pode ser negócio unilateral. Não vos posso satisfazer se não quiserdes; se não tiverdes forme de nada vos servirá tomar uma refeição. Se, porém, tiverdes fome encontrareis bastante satisfação no alimento para vos sustentar durante o dia todo. Assim, pois, não deixeis tudo à mim: não espereis que vos satisfaça. Quanto mais fundo mergulhardes o vaso de vosso desejo no poço do entendimento, tanto mais tereis capacidade para receber. O que sinto no presente, é que não há suficiente ansiedade, vital interesse. É um mero aflorar à superfície.

Se, de vossa parte houver o desejo de colocar em prática uma ideia daquelas de que vos falo, então verificareis por vós próprios as formidáveis possibilidades, o que há de implícito, os significados meio ocultos que, para uma consciência não reflexiva, proporcionam apenas um entendimento superficial. Assim, tendes que aproximar-vos do que eu digo com mente ansiosa, ponderada e ardorosa.

Como disse outro dia, aquilo de que falo não é o resultado da leitura ou do assistir a reuniões, de ler livros e ouvir conferências. Não é, portanto, uma dedução à qual tenha chegado após haver examinado várias teorias, vários arrazoados. Para mim isto nasceu de minha própria experiência; e daí sustento que aquilo que digo não é impessoal, é universal. Relaciona-se com a própria vida; e daí o ser aplicável a todo o momento de nossa existência, o ser prático e capaz de ser vivido, isto é, realizável.

A definição tem valor somente quando vos proporciona a oportunidade de olhar através para ir mais além. Esta é a característica principal da definição; não é um fim em si mesma. Assim, esta manhã vou tentar descrever, definir aquilo que, realmente é indescritível e indefinível; para colocar em palavras aquilo que somente é verificável quando se tem uma mente plácida, maleável, ardente, despojada de todos os objetivos e pontos de vista de natureza pessoais. É preciso, em absoluto, não ser teimoso, não ser apanhado pelas opiniões. A vida é criação e não se pode aplicar a criação às palavras “Felicidade” ou “Infelicidade”. A vida é criação, é movimento e nela existe a manifestação e não-manifestação, fenômeno e não-fenômeno. Assim, não vos aproximeis do entendimento da vida imbuídos de quaisquer relações qualitativas, circunstâncias especiais e atributos. Por isso é que eu disse que, para entender a realidade última, a finalidade da vida, a própria vida em si, tendes que vir a ela com mente liberta de todos esses atributos e qualidades. A vida é criação e a Natureza esconde a vida — isto é, toda a coisa que existe em manifestação oculta, a vida em si mesma. Quando esta vida na Natureza se desenvolve e se torna concentrada no indivíduo, então é quando a Natureza se consome a si mesma. (Isto não é teoria; podeis pensar sobre isto e haveis de verificar). O destino é a função da Natureza em conjunto, e criar o indivíduo autoconsciente, que conhece os pares de opostos, que sabe ser ele próprio uma entidade em si mesmo, consciente e separada. Assim, a vida, na Natureza, por meio de seu desenvolvimento, torna-se autoconsciente no indivíduo concentrado e desperto. Isto é, um ser separado — um indivíduo autoconsciente que sabe ser diferente de outrem, no qual existe separação de “tu” e “eu”. Quando esta vida autoconsciente no indivíduo, presa no cativeiro das limitações, conhece a separação de “tu” e do “eu”, do objeto e do sujeito, se houver libertado dessas limitações, alcança o fim, preenche a si mesma. Portanto, autoconsciência é esforço. Se não puserdes em prática o esforço, se não houver esforço contra a limitação, não mais haverá autoconsciência e individualidade. A individualidade é imperfeição; não é uma finalidade. Quando a individualidade se houver preenchido a si mesma por meio do esforço incessante, destruindo, despedaçando as paredes da separação, alcança essa sensação do ser sem esforço; então a autoconsciência no indivíduo realiza o puro conhecimento no qual não existe nem sujeito nem objeto.

Meu ponto de vista, é que precisais, em primeiro lugar saber em que sentido a vida se orienta — e por vida entendo eu essa existência individual que alcança o seu fim na libertação. O homem que conhece a separação é apenas o sujeito que é limitado e nele o objetivo não foi ainda realizado. Ele tem que aperceber-se da direção em que a vida labora, qual o seu propósito; de outro modo a experiência não teria significado, a criação não teria significação e nem tão pouco a perfeição e a iniquidade. Se esse indivíduo no qual existe a consciência da separação, de sujeito e objeto, não compreende o propósito da vida, torna-se mero escravo da experiência, para a criação. Assim, meu objetivo é, em primeiro lugar o fazer compreender o propósito da vida, compreender a direção a qual estais lutando, e depois fazer utilizar toda a experiência, toda a emoção, todo o pensamento, para vos fortificar e para desfazer este véu de separação.

Para o indivíduo autoconsciente existe sujeito e objeto e o objeto torna-se uma entidade distanciada para o qual ele olha pedindo auxilio, a quem proporciona sua adoração, seu amor, seu afeto, todo o seu ser. Não estão todos fazendo isto? Para o indivíduo separado, a vida torna-se em sujeito e objeto, porém a finalidade da vida, o preenchimento da vida é realizar a totalidade do conjunto — o ser não objetivo, não subjetivo — que é PURA VIDA. Assim, é na subjetividade do indivíduo que o objeto realmente existe. No indivíduo estão o começo e o fim. Nele está a totalidade de toda a experiência, de todo o pensamento, de toda a emoção. Nele está toda a potencialidade e a sua tarefa é realizar essa totalidade no subjetivo; isto é, em sua própria consciência.

A finalidade da vida, então é, por meio de uma série de esforços — todos os dias, a cada minuto, e cada segundo, — chegar a esse PURO SER que é desprovido de esforço — o qual é desconhecer o sentimento de separação da consciência individual. Pois que a consciência individual é esforço. Quando verificais que dentro de vosso próprio eu reside todo o universo — o universo da VIDA¸ não da manifestação — então pelo exteriorizar-vos, inevitavelmente voltareis à fonte de toda a existência que está em vós mesmos. Daí, este PURO SER, esta PURA VIDA, é toda integrativa: posto que fora dela exista tempo e espaço, nela em si mesma tempo e espaço não existem.

Assim, o PURO SER, a VIDA, está para além do tempo e do espaço e, achando-se para além, é imperturbável, tranquilo, sereno e de felicidade plácida. Á partir do momento que dependais de tempo e espaço há limitação e infelicidade. Este PURO SER que é impessoal, posto que não seja pensamento nem emoção, posto que não seja desejo é, no entanto, o fim do desejo, a meta do pensamento, a finalidade da vontade. É intuição. A intuição, posto que não seja pensamento, nem emoção, é, no entanto, a finalidade e a meta de ambos. Esta PURA VIDA é impessoal; porém, tendes que a ela chegar por meio do esforço pessoal, mediante a purificação do pensamento e da emoção. O PURO SER não se encontra nas coisas externas, objetivas, porém sim em nosso próprio ser; o buscar o vosso verdadeiro ser implica incessante esforço e constante apercebimento.

Quando houverdes alcançado o PURO SER, a PURA VIDA, entretanto — quando houverdes encontrado a verdade sem a qual não vos podeis aproximar de caminho algum — então tereis obtido a cessação do esforço; então vereis pela pura intuição, a qual se encontra potencialmente em todo o indivíduo autoconsciente. Pela contínua conquista, pelo entendimento de vossos anseios internos, das vossas paixões, das vossas esperanças, dos vossos desesperos, de vossas pesquisas vãs e do vosso desejo de ser consolado e confortado, — pelo desgaste destas coisas gradualmente, chegais à vida liberta que é felicidade, que é o lugar de moradia da pura intuição  e da pura ação. Toda a vez que objetos vierem a ser apresentados à vossa intuição ela dará sempre a resposta correta. Uma vez que tenhais entendido o propósito da vida — por objetiva que ela seja ao começo, por exterior que ela seja a vós em princípio — a todo o instante estareis vigiando, apercebidos, auto-recolhidos, afim de utilizardes toda a experiência e todo o pensamento como um meio para guiar-vos em direção àquela. Então, tornar-vos-eis o vosso próprio libertador.

Para um tal homem não existe o medo. Ele removeu a causa fundamental do medo. O homem que não repousa sobre circunstâncias exteriores para seu crescimento interior, domina o espaço existente entre a separatividade autoconsciente e seu preenchimento. Isto é libertação, isto é felicidade — não os estágios intermediários, os quais são apenas ilusões da mente. Espero que me fareis perguntas acerca deste assunto, porém é ele uma realidade indescritível e viva, que somente pode ser realizada por vós mesmos. Ela não pode ser transmitida por mim a vós outros. Portanto, a partir do momento, que estejais apercebidos do propósito da vida, da vossa própria existência separada, de vossa individualidade autoconsciente, então estareis lançando uma ponte sobre o abismo, por meio de constante e incessante esforço.  Homem feliz é aquele que venceu todo esforço, porque, no fim de tudo, a verdadeira virtude é espontânea, e isenta de esforço. Enquanto existir esforço, não estareis ainda libertos. Não existe ainda esse estado de entendimento, de PURO SER, de PURA FELICIDADE, e de PURA INTUIÇÃO. Para chegar à isto é preciso que exista essa intensa vigilância, esse contínuo esforço, esse ajustamento, essa escolha de que tenho falado; e tudo isto exige a grande energia da inteligência desperta. Para o homem que deseja realizar este estado de libertação — de felicidade, de pura vida e de puro ser — deve existir o constante apercebimento do verdadeiro merecimento das coisas que o rodeiam. Um tal homem torna-se iluminado, pois não mais é escravo de coisas que não têm valor.


Krishnamurti em Reunião de Verão, Eerde, 18 de julho de 1930
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill