O perigo, penso eu, das
discussões metafísicas, é o de nos afastarem dos conflitos reais que defrontam
a cada um de nós na vida diária. A partir do momento que eu fale de algo que somente
pode ser auto-realizável, que não pode ser dado, que não pode ser transmitido a
outrem por meio de palavras, estaremos aptos a nos embrenharmos nesse reino de
discussão, de disputa, afastando-nos do reino de discussão, de disputa,
afastando-nos do reino do continuo ajuste. A Verdade, que para mim é Vida, não
é assunto de lógica, nem deve ser compreendida por meio de discussões
filosóficas ou de disputas metafisicas. Está para além do entendimento
intelectual, como longe está do mero sentimento. A verdade não é coisa para nela se acreditar; é para ser realizada por
nós mesmos. As palavras que utilizo destinam-se a transmitir um certo
significado — porém posso falhar na tentativa. Se se pudesse inventar uma nova
língua seria infinitamente mais fácil. Como não posso, porém, tenho que me
servir dos termos da linguagem vulgar e de a ela amoldar o significado afim de
os adaptar ao meu propósito. As palavras, assim como o intelecto, deveriam
atuar como uma ponte. O verdadeiro propósito do intelecto, é ser como uma ponte
entre o mundo transitório e o mundo da realidade, o mundo da verdade, o mundo
da vida, o mundo da felicidade. E o mesmo acontece com as palavras. Se
meramente vos deixardes colher pelas palavras, elas não terão significado. Eu,
pessoalmente, não desejo entrar em discussões metafisicas de modo algum. Não é
este o meu intento, pois que em tal nos perderíamos; aí então, teremos inúmeras
teorias e lutaremos uns com os outros por causa dessas teorias. O que
necessitamos não é de teorias, de mais emaranhados filosóficos, porém, sim, de
um claro entendimento quanto ao caminho para a conduta, o qual é o caminho para
a vida. A conduta a todo o instante deve estar ajustando-se a si mesma, ao
propósito do indivíduo.
Krishnamurti em Reunião de Verão, Eerde, 19 de julho de 1930