Pergunta: Haveis falado do mal como sendo a falta de capacidade para
resistir ao não essencial. Que entendeis por isto?
Krishnamurti: Toda a vez
que não existir essa resistência interna em relação aquilo que não é
essencial,, a falta de resistência pode ser denominada “mal”. A capacidade de
resistir depende ou varia de acordo com o esforço individual. Assim, não pode
haver uma estrita delimitação de mal e do bem — pois que o “bem” é a capacidade
de resistir ao não essencial. Agora, para por nós próprios verificarmos o que é
essencial e o que não é essencial, temos que possuir a concepção, o entendimento,
a visão de qual é o propósito último da
vida. A partir daí podereis sempre julgar por vós mesmos o que é essencial
e o que é “o não essencial”. Para vós próprios, notai, — vós não podeis
estatuir isto para outrem. Por isto é que é essencial o achar aquilo que a vida
é, o que é o preenchimento da vida, e em direção a que objetivo a vida labora.
Esta separação, esta tristeza, este sentimento de solidão, que é que significa?
Esta é a razão de minha insistência, não quanto ao absoluto, porém quanto ao entendimento
daquilo que é a consumação da vida. Então, pode-se desenvolver a capacidade de
resistir com entendimento. Uma tal resistência, não será pois a supressão,
porém sim o domínio. Domínio e supressão são duas coisas diferentes. A
supressão é aniquilamento, recalcamento sem entendimento, subjugar a violência
do desejo sem compreende-lo. O domínio é a direção inteligente do desejo para
um objetivo designado. A supressão é um desperdício fútil de energia, ao passo
que o domínio com propósito definido torna-se ação espontânea na direção da
experiência. O domínio é a técnica que vos proporciona a resposta correta à
toda a experiência. Por exemplo, um grande pintor, um grande músico, possui uma
técnica bem desenvolvida, bem em reserva, de modo que toda a vez que enxerga um
belo objeto, ou se aproxima de um piano, o conjunto de sua técnica vem à tona e
manifesta-se na ação reta, na ação pura.
O homem que se não encontra seguro, que duvida, que não está concentrado, não
pode agir retamente; sua ação torna-se meramente a reação de suas emoções não controladas,
de seus impulsos externos. Assim, o descobrir o essencial vem a tornar-se um
processo de escolha contínua, baseada sobre o entendimento do verdadeiro
propósito da vida. A escolha é a descoberta contínua da verdadeira Escolha — significa
ação, a qual é conduta na vida, a maneira de vos comportardes seja para com
quem for. Assim, a escolha, posto que a começo não seja espontânea, em virtude
de seu exercício na direção dessa realidade última, torna-se depois espontânea
e automática, uma tal escolha é sempre a do essencial — mediante a capacidade
de resistência ao “não essencial”.
Krishnamurti em Reunião de Verão, Eerde, 17 de julho de 1930