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terça-feira, 5 de julho de 2016

A sabedoria da Experiência

Assim como uma árvore com muitos ramos pode dar ao viajante cansado sua sombra, assim todos que desejarem ter uma jornada agradável pela estrada da vida, precisam possuir o conhecimento que é alcançado por meio da experiência. Pois não é o mero conhecimento dos livros, de teorias intelectuais, porém o conhecimento nascido da verdadeira experiência, que é cultivado pelo pensamento constante alimentado pela constante observação, que ajudará no verdadeiro entendimento da vida.

Para compreender e apreciar, como frequentemente o tenho eu dito, precisais aprender a observar. Pois o entendimento da Verdade e o entendimento da Vida advém quando fordes capazes de traduzir o que observardes em vossa vida diária. Outro dia, ia eu de Shanti Kunj para o Hall da Sociedade Teosófica e chovia. Todas as folhas eram aspergidas e purificadas. Havia um homem, um jardineiro, todo encapotado até o nariz, sentado sobre a ponte, entre o jardim de Shanti Kunj e o portão. Pergunto a mim mesmo quantos dentre vós o haveriam notado. Como não sabia falar hindi, pedi ao amigo que me acompanhava que dissesse ao homem que entrasse para a varanda, pois que estava chovendo e não era muito agradável estar sentado fora, durante a chuva. Esse amigo assegurou-me que ele estava acostumado a coisa semelhante. Chocou-me o verificar quão calejados nos tornamos para as coisas que observamos todos os dias. Imaginava, à medida que me dirigia para o Hall que o velho em questão ia resfriar-se e cair doente e que porção de dificuldades não teriam que defrontar com ele e a sua família em resultado da chuva. Havia uma varanda próxima, onde ele se poderia ter sentado sem que ninguém se opusesse a isso e no entanto, todos iam passando e ninguém lhe disse que se recolhesse à varanda. Em lugar de se meditar tanto sobre o Ganges e cumprir práticas espirituais e todas as complicações que considerais necessárias à vida espiritual, quisera, que pudésseis aprender a verdade e o entendimento nos pequenos incidentes da vida, não no aprendizado de grandes lições ou no fazer dos grandes sacrifícios. Se um cão, pelas ruas andar sarnento, sem pelo, comido pelos insetos, coisa realmente lamentável de contemplar-se, que dificilmente se mantenha sobre as pernas, quantos dentre vós — que sois jovens, que ides à escola, que fazeis perguntas complicadas e, à medida que cresceis em anos, executais todas as espécies de cerimônias, ides ao Ganges, aos lugares sacros, visitais santuários — tivestes jamais um pensamento único para esse infortunado cão? Que importância tem que encontreis deleite em certa verdade, se não traduzirdes esse deleite para a vida prática? Muitos amigos meus vêm a mim e me pedem que os ensine a como meditar. Eu contemplo-os por muito tempo, não de modo paternal, nem apiedado, porém com tristeza no coração, ponderando se pela meditação eles irão resolver a tristeza do homem que se acha na ponte sentado, ou a dor do cão que se encontra faminto e sarnento e que todos evitam. Se não prestardes auxílio em coisas tais, para que serve a vossa meditação, as vossas práticas espirituais? Não sei por que haveis de meditar se de vosso pouco entendimento não puderdes dar a outrem.

Assim, pois, enquanto sois jovens, aprendei, se me é permitido sugerir-vos, a contemplar a nuvem que passa pelo céu a verificar como dá sombra, onde a sombra cai, sobre quem projeta seu negrume por meio do sol radiante e contemplar em uma tarde a nevoa radiante que delicia o pássaro solitário que se encaminha para o lar; contemplai o pássaro que se balança sobre um ramo, ponderando onde é que há de encontrar seu alimento, lobrigando cada verme, buscando todo o grão. Observe, depois, como caminham os homens, como se comportam, por que modo se vestem, o modo pelo qual conversam a maneira por que comem, o modo de eles estudarem; pois cada coisa, se aprenderdes a observar, terá para vós um significado especial. Por esta maneira eu encontrei a verdade; por esta maneira estabeleci perduravelmente a verdade dentro de mim próprio, por esse modo atingi. Aprendi a utilizar todo o pequeno incidente que tem lugar. Quando comeis uvas absorveis o suco e abandonais e rejeitais a pele. A casca não tem valor, vós a atirais fora e ela seca ao sol e desaparece, porém o suco da uva vos proporciona nutrição. A lição vos dará força para aprenderdes outras lições de incidentes outros e o acúmulo de experiência torna a vida completa e integral.

Se fordes sábios, não com o mero conhecimento originário dos livros, não com a sabedoria que vem do culto às imagens e do visitar santuários e templos — posto que todas essas coisas possam ter seu valor — porém com a sabedoria que nasce da experiência, do entendimento da tristeza, da dor e do regozijo, do grande prazer, aprendeis a caminhar por todas as ruas com todos os homens. Conheci um homem na Inglaterra que costumava embriagar-se todas as noites. Porém, num dia da semana ele jamais se embriagava, pelo fato de seu filho vir da escola nesse dia determinado. Não podeis imaginar que sacrifício era para ele o não beber nesse dia ao passo que estava habituado a embriagar-se todas as noites. O afeto que tinha pelo filho, o pouco entendimento que havia desenvolvido, dera-lhe capacidade para sacrificar seu imenso anseio pela bebida. Porém o que fazemos nós que lemos a Bhagavad Gita muitas vezes ao dia, que meditamos, que executamos muitas cerimônias que supomos há de resolver nossos problemas da vida? Somos, provavelmente, mais cruéis para com os nossos filhos, para com as nossas esposas, do que o ébrio. Podeis ler toda a literatura do mundo, podeis meditar, podeis adorar em todo o santuário, podeis ofertar flores; se, porém, não souberdes como tratar a outrem com afeto, tomar a outrem dentro de vosso coração, toda a vossa meditação, todos os vossos sacrifícios, todo o vosso conhecimento será sem valor.

Aprendei a manter vossos olhos abertos. Toda a folha que cai da árvore tem seu significado, todo o pássaro que voa vos pode proporcionar seu deleite, sua suavidade, sua energia. Todo o pequeno incidente que vos rodeia vos pode ensinar sua grande lição. Se da vida aprenderdes por este modo, então não necessitareis de grades autoridades que vos narcotizem até ao sono; não precisareis de doutrinas que sufoquem e mantenham a vossa vida em cativeiro; não precisareis de crenças que vos tornem complicados, que vos forçam como uma vide, como uma trepadeira; não precisareis de santuários com suas imagens inúmeras, seus deuses com seus múltiplos desejos. Pois que vós próprios vos tornareis a imagem santa, vós próprios vos tornareis o templo. Por isto é que deveis observar e colher experiências afim de compreenderdes. Este é o poder que eu gostaria de proporcionar-vos se por acaso há coisa que se pareça com dádiva; eu quisera abrir vossos corações e mentes.

Durante estes dias que estive em Benares observei como as pessoas prestavam atenção aos vários oradores inclusive a mim próprio e notei quão pouco eles compreendem realmente; não somente as suas perguntas traem sua falta de entendimento, como também o modo pelo qual se comportam. Não se trata de grande entendimento, trata-se de nos tornarmos menos complicados na vida, pois que a verdade é simples. A verdade só vem a um homem que tenha aprendido a utilizar o entendimento para aliviar os outros, eliminando o desentendimento das mentes e dos corações dos outros. A verdade vem somente àqueles que trilham a estrada da vida com entendimento.

Quando voltardes no ano próximo, gostaria que todos vós fosseis meus verdadeiros companheiros pelo fato de realmente compreenderdes. Quisera que fosse removida a barreira que existe entre vós e eu, a barreira do desentendimento e de falta de poder para traduzir esse verdadeiro entendimento para a vida. A ocasião apropriada para vos tornardes simples, limpos, puros e serenos é enquanto sois jovens. Enquanto sois jovens deveis proteger a vós próprios como planta tenra, de todas as superstições, credos e autoridades. Aprendei, enquanto jovens, a crescer tão firmemente como a palmeira, reta, simples e escorreita. A única verdade, a única meta é crescer das complexidades inúmeras, para a grande simplicidade. Quando houverdes alcançado a simplicidade, o verdadeiro entendimento da Verdade nasce com ela e somente podereis alcançar essa simplicidade e verdadeiro entendimento quando fordes capazes de dar a todo o incidente que vos rodeia seu valor apropriado, para que, ao passo que aprenderdes sua lição sejais capazes de esquecer o incidente. Em vossa própria mão repousa a glória de vossa perfeição, em vosso próprio coração reside a purificação do afeto e em vossa própria mente reside o poder de desenvolverdes vossa uniquidade individual. Então podereis utilizar toda a coisa que ao redor de vós acontece e construir vossa casa tão forte em seus alicerces que ela perdure através da eternidade. Então, em tal edifício a Verdade estará estabelecida.


Jiddu Krishnamurti em discurso proferido em Benares, Índia, 1928
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill