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terça-feira, 5 de julho de 2016

Krishnamurti – estudo critico – parte 4


Já fizemos menção da dissolução da Ordem da Estrela, como gesto que caracteriza a tendência de Krishnamurti nestes últimos anos. O desejo de liberdade, de redenção. O jovem hindu declara abertamente que seu único desejo é libertar o indivíduo, incondicional, absolutamente, libertar o homem de todas essas coisas que o aprisionam internamente, que o mutilam, que o limitam, afim de que a Vida que está dentro dele possa encontrar sua livre, criativa expressão. Seu trabalho é, portanto, essencialmente espiritual e, portanto, incompreensível para aqueles que — privados de espiritualidade — quiserem dar outro significado às suas palavras. Em sua linguagem, liberdade é, frequentemente, equivalente de licenciosidade.

Krishnamurti, como Chefe da Ordem as Estrela, procede à sua abolição por acreditar que a Verdade não pode ser organizada e por ele próprio não pertencer a nenhuma instituição de propósitos espirituais. Surgiu a confusão e perguntas impertinentes lhe foram dirigidas. Esta asserção somente se refere definidamente a instituições de caráter espiritual, porém não impede o público de acusar Krishnamurti de ser contrário a todas as instituições, o que o obrigou a declarar que, necessariamente ele utiliza-se delas como faz uso dos postes de telegrafo.

Um conservador ponderado verá, entretanto, nestas declarações, uma tendência anarquista, ao passo que um extremista do partido oposto explorará esta declaração, interpretando-a de modo errôneo, em favor de suas convicções. Krishnamurti não se preocupa, entretanto, com a destruição das instituições públicas. Ele concede ao Estado o cuidado da administração material da nação, porém recusa aceita-la como uma força moral: exige para o indivíduo o direito de escolher livremente e sem intervenção de autoridade externa, a direção que deseja seguir internamente. Quando diz revolta, livramento, liberdade, é às do espírito que ele se refere. Para ele, revoltar-se, tornar-se livre, não significa atacar primariamente as instituições legais de um país, porém sim dispensar internamente todas as muletas, todo o auxílio, todo o abrigo, toda a autoridade. O primeiro gesto não precisa ser externo porém uma destruição dos nossos próprios preconceitos, de nossas próprias limitações, de nossos próprios desejos de domínio. Este é o ponto em foco.

Tendo atingido o momento de sua liberdade, o homem tornar-se-á um ser novo para o qual o mundo terá tomado um novo significado. O que esse ser virá a fazer quando chegar a um tal momento, só ele próprio o poderá dizer; profetizar ou adivinhar, seria vã especulação. Ocupemo-nos com o futuro, sim, porém somente até ao ponto em que ele estiver contido no momento presente.

O indivíduo (que significa para cada um ele próprio), tratado aqui, no momento presente, tal é nossa preocupação e nossa tarefa claramente definida. Não nos é permitido fugir ao acontecimento adiando-o para um futuro nebuloso onde cada coisa seria miraculosamente disposta para nós. Nem nos devemos preocupar com os deveres de nosso próximo em relação a nós. É a nossa conduta, a nossa atitude, a nossa vida diária que deve ser tornada perfeita, isto é, levada a esse ponto onde o transitório está em harmonia com o eterno. E é precisamente o transitório que nos permitirá reconhecer o eterno. Simplificai. Não nos embaracemos com especulações inúteis, porém vamos diretamente de um ponto essencial a outro ponto essencial, sem nos perdermos no labirinto dos atalhos.

A vida do espírito exige seus direitos com tanta insistência como os do corpo. Um homem esfomeado não pergunta o que os africanos do Timbuctoo estão comendo nesse momento, ou o que ele próprio irá comer daí a dez anos: ele deseja comer imediatamente. Se a fome de verdade for igualmente cruel assim, ela nos fará repelir tudo que nos distraia ou venha adiar a sua satisfação. Notamos aqui como Krishnamurti insiste sobre a necessidade de tornarmos clara para nós mesmos a aplicação da palavra “essencial”, e em seguida, escolhermos deliberadamente. Ele convida a cada um a examinar o que realmente lhe parece de importância primária. Acha-se ele à busca de riqueza material, popularidade, glória? Ou perfeição espiritual, libertação? Acima de tudo, não nos permitamos confundi-las umas com as outras ou nos esforçarmos para atingir ou jogar com ambas as coisas. Assim como todo o ser é completamente livre, como nenhum juiz se vai pronunciar sobre seus méritos, pode ele, com toda a segurança, procurar descobrir suas verdadeiras tendências sem mentir para si mesmo no sentido de adquirir uma ilusória tranquilidade da mente. Que ele próprio determine portanto o objeto de sua busca e depois o persiga com todo o ardor. O único mal real é mentir para si mesmo, tentar conciliar o inconciliável. A sabedoria de Krishnamurti evidencia-se por si mesma nessa linha reta, sem transigência, na convergência de todas as tendências em direção ao ponto essencial.  Um ardente desejo é a necessidade única para uma tal concentração. Isso depende de nós e guia espiritual algum nos pode servir de ajuda. Regras estabelecidas de conduta, sistemas, somente podem satisfazer a alguém que espere resposta do exterior. Porém somente a experiência vivida é que pode proporcionar uma resposta interior que seja de valor perdurável. É esta descoberta, esta revelação íntima que nos deve dirigir, é nossa vigilância curada que deve ser nosso verdadeiro guia, advertindo-nos durante o dia inteiro dos erros que houvermos cometido. Não há leis pré-estabelecidas para guiar o espírito. O espírito dita suas próprias leis e sopra aonde quer. A execução da nossa tarefa nos virá provar que soubemos nos aperceber dessa Voz da Vida. A Verdade precisa ser descoberta: nenhum roteiro trilhado conduz a ela. O Mundo da Verdade é, em cada caso individual, um mundo ainda não descoberto. Isto não significa que cada exploração esteja necessariamente sob o domínio da sorte, do acaso, do caos ou da anarquia. Pelo contrário, a ordem a governa, porém a sua própria ordem peculiar e os valores estáticos, temporários, são substituídos pelos valores eternos que são dinâmicos.

É o momento presente que os encerra. É neste momento que descobriremos o mundo da Verdade, invisível e contudo real, próximo, porém inacessível para aquele que vive absorto no passado ou perdido no futuro.
* * *

Que há, então, de novo, no que Krishnamurti diz?

A expressão desta descoberta experimental. Porém ela perde o seu sabor de novidade a não ser colhida por mentes prontas a realizarem uma experiência equivalente. Velhas garrafas contaminam o vinho novo e aqueles que “se tornaram sábios em coisas infantis” são incapazes de perceber esta nova frescura. Somente aqueles que são de espírito rebelde, que só podem sentir-se satisfeitos pela destruição em si próprios da antiga ordem serão capazes de responder a esta nova efusão do espírito eterno.

Eis o que Krishnamurti em pessoa diz sobre o assunto:

“Aqueles que quiserem compreender meu ponto de vista, que possuem o desejo de atingir aquilo que eu atingi, não podem de maneira alguma transigir com irrealidades, com as coisas não essenciais que o rodeiam. Pelo seu próprio desejo estático de atingir, devem impor a si mesmos a autodisciplina da qual vos vou falar. Quero que isto fique perfeitamente entendido. Que utilidade tem uma grande hoste de pessoas que transigem sempre, um número vasto dos que se acham incertos, vagos, atemorizados, duvidosos? Se três houver que hajam se tornado uma chama da Verdade, que sejam um perigo para tudo quanto os rodeie e que seja desnecessário, esses três e mais eu criaremos um novo entendimento, um novo deleite, um novo mundo. Vou à procura de um, três ou meia dúzia que se achem absolutamente seguros e determinados, que tenham terminado com todas as transigências. Os outros seguirão vagarosamente conforme as suas conveniências, por necessitarem sofrer mais e aprender mais.

O homem, sendo livre, é integralmente responsável para consigo mesmo, não guiado por plano algum, por nenhuma autoridade espiritual, por nenhuma dispensação divina, seja ela qual for. E por ser livre é, em virtude dessa mesma liberdade, limitado. Se não fosseis livres, teríeis um mundo diferente daquilo que existe presentemente. Assim como a vontade é livre em todos, é também limitada e pelo fato de o eu ser mesquinho, sem determinação ou propósito  ao começo, escolhe, discerne, tem seus gostos e desgostos. No remover essa limitação que é autoimposta ao eu reside a glória do atingimento do Eu, a liberdade do Eu.

Este atingimento não é produzido pelo êxtase, nem reside no abandonar-nos a trabalhos ou à meditação, no seguir cegamente a um outro ou na imolação de si próprio a uma causa. Pelo fato de o “Eu”, o Ser, se achar em processo de consecução, vai ele criando barreiras entre si e o seu conseguimento, pelo seu ardor, pelas suas lutas, pelo seu temor, por meio de complicações inúmeras. Para removerdes estas barreiras de limitação, necessitais de constante apercebimento, vigilância constante, continua auto-reflexão, que deve ser imposta a vós próprios por vós próprios, jamais por outrem. Se, porém, a vós próprios disciplinardes inconscientemente, sem saberdes para onde ides, esta mesma disciplina se tornará uma barreira. Compreendei o propósito da vida e desse entendimento mesmo surgirá a autodisciplina. A autodisciplina deve nascer do amor a Vida — vasto, imensurável, integro, incondicionado, sem limites, ao qual toda a humanidade pertence. Pelo fato de amardes essa liberdade que é absoluta, que é a própria Verdade, que é a Vida eterna, que é perfeição, que é incorruptibilidade, que é harmonia; pela própria força inerente a esse amor, vossa autodisciplina vos tornará incorruptíveis; assim, precisais alimentar esse amor. A incorruptibilidade do eu é a perfeição da vida.

Enquanto um homem não for tornado incorruptível por si mesmo, não conhecerá felicidade, será colhido pelo cativeiro da amizade e pelo temor da solidão. A fadiga da angústia ainda o empolgará. É preciso que sejam criados homens pela serenidade e harmonia. Homens tais devem nascer de nós. Tais homens devem dar nascimento a novas transformações, devem tornar-se uma chama para queimar todas as escórias das irrealidade e criarem essa energia terrífica que será um perigo para todas as coisas não necessárias e infantis.

Para vos tornardes homens assim, precisais de viver no eterno agora, neste momento da eternidade que não é nem futuro nem passado. Em vós deve estar concentrado esse entendimento, esse poder imenso que destruirá as irrealidades, as coisas não essenciais que rodeiam o eu. Tais homens, por suas vidas, criarão um novo mundo, um novo entendimento. É vossa vida que importa, o que fazeis, o que pensais, não o que pregais, não a maneira pela qual projetais uma sombra sobre a face da vida.

Tudo isto pode parecer imenso, vago, incerto, impossível de alcançar; tendes, porém, que ir-lhe atrás, embora sejais fracos, embora tenhais as vossas perplexidades, vosso isolamento, vossas complexidades — essas coisas são pequenas em comparação com o eterno”.


I. de Manziarly - Boletim Internacional da estrela - nº 1 - 1930
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill