Pergunta: Dizeis que a verdade não tem caminho; devemos entender que,
para atingirmos a verdade ou a libertação, cada um tem de fazer o seu próprio
caminho; que haverá tantos caminhos quantos forem os indivíduos e que não há caminho
comum em qualquer fase do processo?
Krishnamurti:
Absolutamente. Cada um tem de fazer seu próprio caminho, porque a verdade é uma
questão de percepção individual, de experiência individual em redor, e não
podeis seguir o caminho de outrem, embora grande, embora sábio.
Ainda que seja um profeta, ele
não vos poderá conduzir. O indivíduo deve se desenvolver, o indivíduo deve, em grau progressivo,
tornar-se único para compreender a verdade. Tomai o exemplo de uma seta atirada
de um arco por mão firme. Não há divisão de tempo e de espaço em qualquer
momento. Há uma curva ininterrupta desde o momento em que ela parte do arco até
alcançar o alvo. Mentalmente, podeis dividi-lo em estágios, mas se vos tornais
uma parte da seta, não há fases — apenas uma linda linha reta. Assim, na vida
não há estágios. É como o amanhecer que espalha o fulgor da claridade. Para
compreenderdes a verdade, que é a vida, deveis desenvolver o sentido do tato, o
sentido do entendimento, deveis desenvolver vossos desejos e não reprimi-los ou
sufoca-los. Fazei vossos desejos tão consumados, tão perfeitos, que não tenhais
limitações. Não tenhais medo dos desejos. Como disse outro dia, o que
percebeis, desejais, e se vossa percepção for pequena, acanhada, limitada,
vossos desejos o serão também. Se a vossa percepção for absolutamente sem limites,
livre, incondicional, integral, continua, ativa, então todos os vossos desejos
serão sem limites, estáticos, profundos, ricos. É exatamente o que se dá com o
pensamento e com a afeição. Se os vossos pensamentos forem simplesmente reações
para o elemento pessoal, então eles vos oporão uma limitação. O mesmo se dá com
o amor e com a afeição.
A vida e o desenrolar da vida, é
um assunto puramente individual, e a verdade, como expliquei, não é uma questão
de crença; deve ser experimentada pelo indivíduo e, por conseguinte, não pode
haver caminho algum para a verdade. Sei tudo quanto dizem os instrutores e
vossos livros. Mas, isso é o que eu digo; examinai-o, analisai-o, criticai-o,
pesquisai-o e se de enérgico em aceita-lo ou rejeitá-lo. Não sejais indiferente
Krishnamurti em reunião de inverno em Adyar, 31 de dezembro de 1929