Pergunta: Em Benares dissestes: “Não sabemos mesmo como gostar do povo”.
E prometestes explica-lo, mas silenciastes porque voltastes para outras coisas.
Podereis tornar a ideia clara? Pretendemos ser uteis ao povo mas abaixamos uma
cortina mental que reage dolorosamente sobre nós.
Krishnamurti: Acho que
esta pergunta provém de uma outra questão que me foi apresentada: “Qual a
vantagem de me pedir para amar o povo, quando eu não sei amar a todos?” Penso
que está próximo da verdade do assunto. Se há amor, este precisa ser
transformado em ação. O respeito às leis morais — se é que tendes leis — deve,
sob meu ponto de vista, ser baseado na ideia de liberdade. Se não souberdes
amar o povo, ser afeiçoado ao povo, gostar do povo, devereis sofrer para aprender. Não
há outro caminho. Se fordes cruel para com o povo, ele será cruel para
convosco. Gostar do povo é vida, ser afeiçoado ao povo é vida; e através deste
processo vós vos desenvolvereis gradualmente até que cuideis de todo o povo do
mesmo modo, sem distinção.
Estais sempre pronto a demonstrar
respeito a qualquer ente superior. Tenho frequentemente observado que quando
venho falar ou passo por alguma pessoa que está sentada, esta sempre se
levanta. Se demonstrais respeito a mim, devereis mostrar respeito ao vosso
criado. Tenho frequentemente observado que quando uma pessoa passa por mim,
faz-me um cumprimento rasgado, ao passo que cumprimenta um criado apenas com um
gesto de mão. O verdadeiro respeito, não se deve tê-lo a uma só pessoa, mas a todos,
inclusive a vossa esposa e filhos. Nenhum valor há em serdes gentil para com uma
pessoa, vossa superiora. Mas se fordes gentil para com todos com quem
estiverdes em contato, tereis a força da
energia criadora; mostrar respeito simplesmente a alguém que julgais vosso
superior, não será senão um reflexo de vosso próprio desejo de ter força. Um
homem que desejar amar a vida como um todo, deve ter a inteligência de
respeitar e amar a todos. Respeitais a vós mesmos e respeitareis a todos —
todas as distinções de classe e as distinções espirituais cessarão. Não tenhais
medo, pois o medo vos fará medíocre, um dente da engrenagem da máquina.
Krishnamurti em Reuni29 de
dezembro de 1929