Pergunta: Como apresentareis a ideia do atingimento espiritual e a
perfeição última a um materialista científico?
Krishnamurti: O
atingimento espiritual, para mim, é a perfeita cultura. Não na acepção aceita
deste termo, como geralmente ele é usado, que implica um homem que possui
muitas maneiras, que é bem lido, delicado. Isto é o verniz superficial que
cobre a vacuidade interior. O atingimento espiritual é a mais esplêndida das
formas de cultura, e a cultura é a expressão individual do entendimento da
verdade sem limitação, da verdade que não é restringida pelas religiões, pelos
dogmas ou crenças, pelas sociedades ou ordens. Para mim, um homem
verdadeiramente civilizado, culto — um homem espiritual — é um indivíduo que
nada pede para si mesmo, seja de quem for, de seus desuses ou de seus
semelhantes; que não está limitado pelo medo; que ultrapassou a dúvida, pelo
fato de a haver convidado e se manter firme em seu próprio conhecimento. Um
homem espiritual, um homem culto, é tão equilibrado, que é capaz de rir de si
próprio; tão sério, que toma a sua seriedade como um divertimento. Esta é a
perfeição última da vida. É isto que todo o ser humano na terra luta para
atingir: ser livre; não depender, para sua felicidade, dos outros; não
depender, para seu entendimento, de crenças, temores ou deuses; não basear suas
ações em teorias estabelecidas; não se achar entre as garras dos preceitos das
religiões.
Acredito que isto é o que todo o
ser humano deseja do mundo, e o que ele está lutando para atingir. E, quando o
houver atingido, alcança a perfeição.
Krishnamurti em Perguntas e Respostas, 1928