Pergunta: O Buda fez menção das características do Arhat como incluindo não somente a união mística, como também
os poderes psíquicos e ocultos. Não deveria o homem perfeito possuir tais
poderes, o que significa completo domínio do mundo da matéria, em aditamento à
sua consecução física?
Krishnamurti:
Naturalmente. Porém, é possível que a expressão dos poderes ocultos e psíquicos
possa não ser tão necessária como a qualidade mística dessa união. A maioria
das pessoas do mundo sente o incitamento pelos poderes místicos e ocultos.
Pensam que se tiverem visões, será isto o absoluto atingimento. Na maioria dos
casos é isto meramente o resultado da má saúde; e são assim desviados pelo que
não é essencial. É muito fácil o vos sujeitardes aos enganos de vossa
imaginação do que fazer frente com firmeza e, por essa maneira, a vós próprios
purificar.
Todos vós confiais na visão
exterior para vos guiar, ao passo que a verdadeira visão — a do entendimento,
vem do interior. A maioria dentre vós confia nos poderes ocultos, nas
demonstrações físicas; precisa da autoridade dos guias espirituais provindos de
um outro mundo para auxiliar e a coagir a se modelarem. Porém, nesse caminho, não se encontra a
libertação nem a eterna felicidade a qual vem somente por meio do
desdobramento da vida.
Sei que na literatura Budista é
dito que o homem perfeito necessita possuir todas as qualidades, porém não
necessita expressá-las todas em uma única vida. Se desejardes cultivar essas
qualidades de importância secundária para a vida, podeis ir para a Índia onde
existem muitas escolas nas quais se ensina o povo a desenvolver a segunda
visão, a respeitar adequadamente e assim por diante. Essas coisas, para mim, não são de importância, não são de valor
perdurável, correspondem ao fortificar de vosso caráter, os vossos desejos
para, por esse modo, desenvolver o entendimento da vida. Sem o entendimento e o
preenchimento da vida, não haverá possibilidade de colher essa eterna
felicidade em vossos corações e de com ela encher o vácuo oriundo do tédio.
Quando houverdes criado a
harmonia dentro de vós mesmos, haveis de criar harmonia no mundo da matéria. Eu
me preocupo principalmente com o criar a interna harmonia e não aquela que é
exterior. A primeira é muito mais difícil de conseguir do que a segunda, ou por
outra, sem compreensão da harmonia interior não tereis a possibilidade de criar
harmonia no mundo exterior.
Krishnamurti, 1931