Pergunta: Para o fim de se tornar perfeito, tem-se que aprender a
tolerar todas as manifestações da vida, tais como as cizânias de um jardim, ou
o verme? Ou podemos destruir aquilo de que não gostamos?
Krishnamurti: Possuir o desejo de não fazer mal a
coisa alguma é mais importante do que entrar em considerações a respeito de se
o que ides maleficiar é grande ou pequeno.
Pergunta: Teremos sempre a oportunidade de oferecer compensações
àqueles que morreram, a quem não amamos bastante quando o tínhamos conosco?
Krishnamurti: A morte é
inevitável; todos temos que morrer. Vós, porém, podeis realizar a imortalidade,
a Verdade, agora, e a realização
deste presente no qual está toda a existência, assegura a imortalidade. Para o
homem que possui esta realização, não há morte.
Enquanto conhecerdes a separação,
isto é, enquanto disserdes “Eu amo a este e não amo àquele” para vós existe a
morte e o isolamento. Não podeis
conhecer a imortalidade enquanto vos apegardes ao que é particular. Não vos
esforceis por proporcionar compensações aos mortos, porém, dai-as antes aos
vivos. Muito de vosso cuidar é tomado pelos mortos e pelos que morrem. Uma
grande quantidade de pessoas aflige-se para saber se serão aniquiladas
Deseja-se continuar numa série de vidas. O homem que assim desejar continuar,
sempre se atemorizará com a morte, e o homem que deseja o aniquilamento total
cansa-se da luta e deseja finaliza-la a todo o transe. Para mim, ambos estão
iludidos. Para o homem que se encontra prisioneiro desta ilusão, o passado com
seus desesperos e falências, buscando oferecer compensações e o futuro com suas
antecipações, esperanças e anseios, existirão sempre. O presente, porém, esse
conserva em equilíbrio o passado e o futuro, e por meio deste apercebimento, no
qual todos os contrastes cessam, dissipa ele a ilusão, realiza o presente, e
esta realização é imortalidade.
Para vós, presentemente, amor
significa o amor a um. Quando este um morre, ficais isolados; em vós existe uma
luta continua entre o isolamento e o amor. Se, porém, refletirdes, verificareis
que o amor é completo por si mesmo, independente do um ou dos muitos. Quando
vos aperceberdes de que o amor é sua própria eternidade, essa verificação vos
libertará do temor da morte.
Krishnamurti, 14 de março de 1931