Pergunta: Dizeis que a Vida não tem plano. Por favor, explicai-nos o
vosso ponto de vista.
Krishnamurti: A maioria das pessoas imagina que um
ser super-humano estabeleceu um plano para o homem e que tudo que o homem tem a
fazer é nada mais que segui-lo. Uma teoria tal é muito confortável, muito
conveniente para aqueles que proclamam conhecer esse plano. A concepção de um
plano para o homem, a ele revelado, pelas religiões, pelos sacerdotes, pelos
instrutores e os sistemas de filosofias, é a própria negação da Vida, livre,
incondicionada e eterna. A negação da Vida conduz à desgraça, à rudeza
combativa, ao ódio, à exploração do homem pelo homem, à crueldade, à cobiça, ao
desejo das posses e a um constante e dilacerante temor.
Eu sustento que o homem é
fundamentalmente livre. Porém, apesar disso, encontra-se em limitação. O homem
é livre para agir em liberdade. Ele se serve de sua liberdade para impor a si
próprio e a todos os que o rodeiam o cativeiro da limitação. E por isso este
terrível e caótico mundo veio à existência, com a luta para a auto-conservação
contínua; e o homem inventa, para seu consolo, um plano e sobrecarrega-se com
ele.
Antes porém, que ele possa
realizar essa inteireza interior que existe em tudo, pois que ela somente é
felicidade, tem ele que se tornar um indivíduo plenamente consciente de sua
individualidade. Quando, na verdade, ele assim estiver consciente, começará a
destruir todas as limitações da individualidade, por meio das emoções, do
pensamento e da ação. Isto, porém, exige contínuo esforço e força para ir ao
extremo de realiza-lo. O homem sente necessidade de fazer transigências e em
suas transigências existe sempre a hipocrisia. Porém, no verdadeiro desapego,
não há hipocrisia.
Krishnamurti, 14 de março de 1931