Pergunta: pelo que haveis dito à noite passada, concluo que o propósito
integral do indivíduo é o de libertar-se dessa consciência que origina a
individualidade, portanto a separatividade. Por outras palavras, o
preenchimento de toda a consciência é o libertar-se da consciência. Poderíeis explicar
mais plenamente o que entendeis por liberdade de consciência?
Krishnamurti: Somente sou
consciente de qualquer coisa quando ela me impede de me realizar a mim
completamente. Torno-me cônscio da cobiça, da inveja, da cólera, da alegria, da
tristeza, quando entro em contato com os outros. Minha consciência é o resultado
de meu desenvolvimento como personalidade e no desenvolve-la crio em minha
mente a ideia de que sou uma entidade separada.
Se amardes a alguém, haveis de
querer que essa pessoa esteja convosco a todo o instante; ou se alguém morre
sentir-vos-eis imediatamente isolados, o que é a mesma coisa.
Tornai-vos apercebidos de vós
mesmos quando entrais em conflito com uma outra pessoa qualquer. Isto cria em
vossa mente a consciência de vós mesmos com todas as vossas qualidades,
desejos, particularidades, idiossincrasias, aspirações, fantasias, temores e
cóleras. Quereis vos apegar a estas coisas e por desenvolvê-las pensais
realizar a Verdade.
A consciência pertence sempre ao
que é particular, para mim e para vós como entidades separadas. Enquanto esta
consciência existir em vosso pensamento, como indivíduo, com vossas
necessidades, cobiças, posses, zelos, alegrias passageiras, tristezas, temores,
haverá limitação e haverá cativeiro. Ainda que desenvolvais essa consciência ao
mais alto grau possível, ela permanecerá sendo consciência limitada.
Nenhuma expansão da consciência vos libertará.
Porém, a partir do momento que vos liberteis do que é particular, do ego, do “Eu-dade”,
libertareis essa consciência e, oportunamente, atingireis a liberdade de
consciência. Isto não é negação semelhante à da morte, porém, sim a realização
da completude na qual não existem contrastes, na qual não existem opostos. É
perfeita harmonia.
Estas coisas mais não são que
palavras para a maioria dentre vós, porém, se as viverdes verificareis a que
pináculo de compreensão elas vos conduzem. Isto, porém, exige constante esforço
e tempo. Não tendes tempo para fazer este esforço; tendes, porém, tempo demais
para vos auxiliardes uns aos outros, isto é, para conduzirdes a outros para a vossa pequena
gaiola particular.
O homem que busca a Verdade deve
estar preparado para ficar inteiramente só; quando, porém, ele houver realizado
a Verdade, não mais haverá isolamento. Ele deve estar preparado para sair do
reino das condições e sistemas sociais; não por desenvolver suas idiossincrasias
particulares, que meramente o conduzem ao endurecimento, porém, sim pelo
esforço constante para pensar com clareza, para ter concentração em suas ações,
e sentimentos. Então chegará a essa serenidade que advém da harmonia de todos
os opostos.
Krishnamurti, Londres, 1930