A Verdade é Felicidade. A
realização da Verdade é viva em sua inteireza. Os homens a todo o instante
buscam a felicidade por meio do acumulo do que denominam qualidades e
experiências. Imaginam que, por desenvolver qualidades, realizarão a Verdade e
atingirão a felicidade. Pensam que por meio do progresso, mediante uma série de
incidentes ou de experiências, chegarão à Verdade. Porém, a Verdade, a Vida em
sua inteireza, está em todas as coisas, a todos os instantes. Jamais se exaure
no maior e jamais se acha ausente no menor. Está eternamente presente em toda a
sua inteireza. Aquilo que já é completo, não pode evoluir. Portanto, a
aquisição, a multiplicação de qualidades não é a realização da Verdade. As
qualidades pertencem somente à “entidade egóica”. O ego, o “eu” é somente um
centro de qualidades, não é a Verdade, a Vida em si mesma considerada.
Portanto, somente por nos libertarmos a nós mesmos do ego, que é a raiz de
todas as qualidades, tanto das boas como das más, a Verdade se realiza. Não se
trata de progredir. Haveis de imediatamente perguntar; “Que permanecerá então
seu eu me desfizer de todas as minhas qualidades? É a resistência, o conflito,
o esforço, o contraste das qualidades e experiências que cria na mente a autoafirmação
da individualidade. A remoção deste contraste, deste esforço, deste conflito,
parece-vos uma negação; se porém, encarardes isto com veracidade, verificareis
que é o contrário que se dá. Removei inteiramente a ilusão das qualidades e
haveis de averiguar que algo de infinitamente grande permanece e que é a
própria Vida. Antes, porém, que possais vos desfazer das qualidades, tendes que
vos tornar intensamente conscientes de vossa própria individualidade. Isto
exige grande esforço, o vos encarardes a vós mesmos como indivíduos,
objetivamente, aparte de vosso ambiente. Por vos tornardes profundamente
conscientes de vós próprios é que descobrireis todas as vossas qualidades,
todos os vossos temores e, por voz tornardes conscientes, começareis a libertar
vossa consciência das limitações provenientes do que é particular.
Em primeiro lugar, pois,
realizais a vós próprios como consciência limitada, a qual vem a ser criada
pela ideia de que estais separados de todos os outros indivíduos. Quando
venceis esta consciência da limitação causada por vós próprios, vem a liberdade
de consciência, na qual todo o contraste de determina esforço, cessa. Para mim,
a Realidade é o ser completo, o qual é a
consumação de todo o esforço, da disciplina — não a disciplina da moral
convencional, da religião, do temor, porém a de vosso próprio desejo; e quando
este desejo houver sido firmado, torna-se ele sua própria lei. O desejo cria a
sua própria disciplina.
Se examinardes o que estou
dizendo unicamente com a vossa mentalidade, permanecerá apena como uma teoria
puramente intelectual, agradável ou desagradável, de acordo com vossas
inclinações. Se, porém, lhe derdes ouvidos, por meio da harmonia da razão e do
afeto, então a sabedoria nascerá dessa harmonia. Tendes que por vós próprios
averiguar se o que digo tem valor por si mesmo.
Krishnamurti em Calender, Escócia