Pergunta: Não estareis determinando uma tensão indébita quanto ao
efeito que é produzido nas pessoas que possuem crença religiosa? Aqui na
Escócia vemos o dogma religioso apresentar-se em seu pior aspecto. Soubemos de
uma criança que ouvindo seus maiores a discutir pontos de doutrina religiosa,
ponderou atemorizado se o Tio David mataria o Pai ou o Pai mataria o Tio Davi —
no entanto estes mesmos irmãos, correspondendo a uma outra necessidade, teriam
talvez abandonado tudo quanto possuíam. Jamais houve povo tão horrendo em seus
conceitos religiosos e tão belo em seus atos! Que tendes a dizer sobre isto?
Krishnamurti: Nada mais a
dizer. Seguramente a pergunta responde a si mesma.
Todos vós quereis a consolação
por meio da autoridade ou por meio da vitória de outrem, e por esse modo
organizais conjuntos de crenças, para a vossa conveniência, os quais se tornam
um interesse instituído. Todas as religiões se hão tornado um interesse
instituído. Porém, a Verdade e a sua realização são um assunto de esforço individual.
Isto não significa que, no processo de realização, vos torneis egoísta. O
egoísmo não permite que a Verdade seja realizada. Por esse motivo necessitais
remover a raiz do egoísmo, isto é, o sentimento da “eu-dade”. Para isto
conseguirdes, tendes que vigiar a vós próprios. Tendes que vos tornar cada vez
mais conscientes de vós mesmos, de vossos pensamentos e de vossas ações, e
então, gradualmente ir eliminando todo o sentimento de particularidade, todo o
sentimento de separatividade.
Krishnamurti, Escócia, 13 de março de 1931